A louça de Redondo feita em barro, tão característica da zona alentejana, pode estar em risco. O número de oleiros é baixo na região e há cada vez menos interesse em aprender esta arte complexa. A decoração da olaria de Redondo foi inscrita para salvaguarda urgente como Património Imaterial
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No Redondo, são cada vez menos os oleiros que trabalham a louça de barro, característica da vila alentejana. Também está a diminuir o interesse em aprender este ofício. Para salvaguardar a técnica tradicional usada nesta arte, está em marcha o processo para inscrevê-la, com urgência, no inventário nacional do Património Cultural Imaterial. O anúncio foi publicado em Diário da República no mês passado.
Nesta zona do Alentejo, chegaram a ser mais de 40, mas agora são apenas quatro. Um deles é Francisco Rosado, que começou na olaria com 13 anos. Aos 17, já era mestre. Está no ramo há 60 anos. Tem o seu próprio local de fabrico há 25 anos. É conhecido por todos como o Mestre Xico Tarefa e conta à TSF o motivo por trás daquela alcunha.
“A minha especialidade no ofício era fazer tarefas, e as tarefas eram taças com um determinado porte, aliás, era como se classificava a mestria dos mestres, na minha altura de aprendizagem. Era fazer desde a peça mais pequenina à peça maior. E naquela altura a minha aprendizagem, a minha especialidade eram as tarefas e então começaram a chamar-me o Xico Tarefa", diz.
Francisco Rosado ainda ensina a trabalhar o barro, através de workshops e formações, uma aprendizagem complexa, mas com cada vez menos pessoas interessadas, sobretudo, os mais novos.
"Se acha que se vai fazer um oleiro como se fazia antigamente, isso acabou, nem aqui no Redondo, nem em parte nenhuma, porque os métodos são diferentes, aquilo que se fazia naquela altura não se faz hoje, não se pratica, não se aprende", assegura.
Apesar de sentir que a olaria do Redondo está a ser esquecida, o Mestre Xico não se imagina a fazer outro ofício. À TSF, Francisco Rosado explica o porquê de a louça ser tão especial.
"Principalmente, no que respeita à decoração, eram só três cores: o amarelo, que era bicarbonato de amónio, o verde, que era sulfato de cobre, e o vermelho, que era o barro que era sobreposto em cima do banho de mármore branco. Eram essas três cores e os motivos eram as flores, aves, galos, galinhas, e passarinhos. Eu até costumo dizer que a olaria do Redondo é como uma pauta de música. Uma pauta de música é lida em todo o mundo da mesma maneira, e a olaria do Redondo é conhecida em todo o mundo pelas suas características muito especiais."
O Mestre Xico receia que a olaria nesta vila alentejana não dure muito mais tempo. “Se o Redondo perder a olaria, perde um bocado da sua cultura e da sua maneira de estar aqui neste cantinho do Alentejo…”
A olaria de Redondo foi inscrita como salvaguarda urgente de Património Cultural Imaterial numa altura em que o número de artesãos é reduzido e a atividade está em risco de morrer.
