Ana Rita Cavaco fala de "uma coisa muito séria" para a qual Portugal ainda não despertou.
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A Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou hoje que passou a incluir na lista de doenças o "burnout", estado de esgotamento físico e mental causado pelo exercício de uma atividade profissional.
A entrada do "burnout" (ou stress profissional) na nova classificação internacional de doenças da OMS baseia-se nas conclusões de peritos de saúde de todo o mundo e foi adotada pela Assembleia-Geral da organização, que decorre até terça-feira em Genebra, na Suíça.
"É a primeira vez que o 'burnout' entra na classificação", afirmou hoje aos jornalistas um porta-voz da OMS, Tarik Jasarevic.
Na classificação internacional de doenças da OMS, que serve de base para as estatísticas de saúde, o "burnout" surge na secção consagrada aos "problemas associados" ao emprego e desemprego, sendo descrito como "uma síndrome resultante de 'stress' crónico no trabalho que não foi gerido com êxito".
A doença, de acordo com a OMS, caracteriza-se por "um sentimento de exaustão, cinismo ou sentimentos negativistas ligados ao trabalho e eficácia profissional reduzida".
Bastonária dos enfermeiros aplaude decisão
A bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, fala de uma doença que ainda não é aceite por todos e saúda a decisão da OMS.
"Em Portugal, as pessoas ainda não estão muito despertas para esta questão", lembra a bastonária. Exemplificando com a intervenção de um cirurgião "muito famoso" num debate recente, que perguntava "o que é isso do burnout, uma modernice", Ana Rita Cavaco responde: "É uma coisa muito séria."
O problema não acontece "porque as pessoas trabalham muitas horas", mas sim pela "forma como estão a exercer o seu trabalho". Partindo de um caso que lhe é muito próximo - o dos enfermeiros - Ana Rita Cavaco explica que por vezes "os obrigam a seguir turno", fazendo uma manhã depois de terem feito uma noite, sob coação das chefias.
Quando estas pessoas vão ao médico "já numa situação de exaustão, de absoluto alheamento, sem conseguirem cumprir as suas funções, têm de ser levadas a sério", algo que acaba por não acontecer. "Pensam que estão deprimidas ou que têm outra coisa qualquer do foro psiquiátrico e, de facto, o que acontece é que estão num estado de exaustão que já não lhes permite trabalhar", lamenta.
A nova classificação vigorará a partir de 1 de janeiro de 2022.