OMS recomenda uso de medicamentos GLP-1 para a obesidade. Especialistas aplaudem decisão que "questiona dogmas"

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A posição da OMS, tomada na segunda-feira, ajudará os sistemas de saúde a orientar suas políticas públicas, incentivando-os a melhorar o acesso a esses medicamento. Na TSF, especialistas aplaudem a decisão que "questiona dogmas"
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou pela primeira vez alargar a utilização de uma classe de medicamentos usados na diabetes e perda de peso para tratar a obesidade, um problema que afeta mil milhões de pessoas. Em declarações à TSF, o médico Gil Faria e o presidente da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal, José Manuel Boavida, aplaudem a posição da agência da ONU.
O primeiro guia da agência da ONU sobre terapias com péptidos semelhante ao glucagon-1 (GLP-1), em que se incluem medicamentos como o semaglutido, recomenda-as para adultos obesos, defendeu acesso equitativo e incluiu-as na lista de medicamentos essenciais.
Esta lista modelo da OMS inclui atualmente 532 terapias, que a organização considera indispensáveis para um sistema de saúde básico e universal.
A posição da OMS, tomada na segunda-feira, ajudará os sistemas de saúde a orientar suas políticas públicas, incentivando-os a melhorar o acesso a esses medicamentos.
"A OMS está a dizer de forma muito clara que a obesidade é uma doença e que esta doença deve ser tratada. Estamos aqui a questionar muitos dos dogmas dos últimos anos de que a obesidade se deveria tratar apenas com o comportamento", reagiu o médico coordenador dos Centros de Tratamento da Obesidade do Hospital Pedro Hispano, Gil Faria.
Para Gil Faria, não se pode olhar para o custo destes medicamentos como uma despesa, mas sim como um investimento para travar doenças futuras.
"Isto é uma preocupação da própria OMS, que no seu documento diz que existem aqui dificuldades de produção, de acesso e de custo. Portanto, o caminho será para que haja cada vez mais fármacos: aumentar a oferta, diminuir os custos", defendeu.
Gil Faria considerou ainda que ao uso destes medicamentos deve-se juntar o acompanhamento médico e a mudança dos hábitos de vida.
Também o presidente da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal aplaude a recomendação da OMS. Para José Manuel Boavida, estes medicamentos têm mostrado bons resultados, e para muitos é a única forma de ter uma vida mais saudável.
"É evidente que estes medicamentos são caros e, por isso, há que negociar com as empresas que produzem estes medicamentos, nomeadamente ao nível europeu. Portugal tem de ter uma política mais ofensiva para encontrar um preço que seja sustentável para podermos fazer chegar este medicamento às pessoas que têm direito a tratar-se", atirou.
As terapias com GLP-1, entre os quais se incluem o semaglutido, liraglutido e o dulaglutido, são usadas para tratar a diabetes tipo 2 e a obesidade, melhorando o controlo da glicose no sangue, suprimindo o apetite e promovendo a perda de peso.
A obesidade é uma pandemia global e esteve relacionada com 3,7 milhões de mortes em todo o mundo em 2024. O surgimento destes medicamentos foi revolucionário na forma como se enfrenta esta doença, uma revolução que agora conta com o apoio explícito da OMS.
Sem medidas eficazes, o número de pessoas que sofrem de obesidade em todo o mundo poderá duplicar até 2030.