Operação Marquês. Sócrates fala em "armação política" para impedir que concorresse a Belém
Num artigo de opinião no Diário de Notícias, o antigo primeiro-ministro critica o processo, descrevendo-o como "a mais formidável campanha de difamação contra um cidadão inocente que alguma vez teve lugar em Portugal"
Corpo do artigo
No dia em que se assinalam dez anos da detenção de José Sócrates no aeroporto de Lisboa, na sequência do processo que viria a ser conhecido como "Operação Marquês", o antigo primeiro-ministro conta, num artigo de opinião que assina, esta quarta-feira, no Diário de Notícias, a sua versão da história, descrevendo o caso como uma "manobra" política para impedir que concorresse à Presidência da República.
José Sócrates afirma que o Estado levou a cabo "a mais formidável campanha de difamação contra um cidadão inocente que alguma vez teve lugar em Portugal". É desta forma que o antigo primeiro-ministro resume a "Operação Marquês", acusando a Justiça portuguesa de lhe ter "negado o direito de defesa, vigarizado a escolha do juiz do inquérito, violado o segredo de justiça e rejeitado a presunção de inocência".
Ao longo de vários parágrafos, recorda o processo, que já leva dez anos, sem nunca deixar de lado as críticas: afirma que não foi realizado "o sorteio que a lei exige" para a escolha do juiz, questiona a medida de prisão preventiva com base na possibilidade de fuga, quando, na verdade, "estava a entrar no país". Sócrates critica, sobretudo, as várias mudanças na acusação, alterações essas que, na opinião do ex-primeiro-ministro, serviram apenas para "salvar a face do Ministério Público".
Sócrates termina o artigo a defender que a Operação Marquês "nunca foi um processo judicial, mas sim uma armação política", com o objetivo de "impedir" a sua candidatura à Presidência da República e - sublinha - assegurar que o PS "não ganhava as eleições de 2015".
José Sócrates foi detido há dez anos no aeroporto de Lisboa, quando chegava de Paris, e uma década passada sobre esse dia ainda não começou o julgamento da Operação Marquês, processo marcado por sucessivos recursos do antigo primeiro-ministro.
No processo, foi acusado pelo MP, em 2017, de 31 crimes, designadamente corrupção passiva, branqueamento de capitais, falsificação de documentos e fraude fiscal, mas na decisão instrutória, a 9 de abril de 2021, o juiz Ivo Rosa decidiu ilibar Sócrates de 25 dos 31 crimes, pronunciando-o para julgamento apenas por três crimes de branqueamento e três de falsificação.
Uma decisão posterior do Tribunal da Relação de Lisboa viria a dar razão a um recurso do MP, e em janeiro determinou a ida a julgamento de um total de 22 arguidos por 118 crimes económico-financeiros, revogando a decisão instrutória, que remeteu para julgamento apenas José Sócrates, Carlos Santos Silva, o ex-ministro Armando Vara, Ricardo Salgado e o antigo motorista de Sócrates, João Perna.