Operação Marquês: vem aí um novo livro de Sócrates e desta vez é sobre o processo

Lisboa, 13/10/2017 - José Sócrates esta noite à chegada aos estúdios da RTP, onde vai ser entrevistado na sequência dos 31 crimes de que foi acusado no processo "Operação Marquês". ( Filipe Amorim / Global Imagens )
Filipe Amorim\ Global Imagens
Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, o antigo primeiro-ministro diz que o PT esteve sempre ao lado de Lula, ao contrário do que aconteceu com o PS, do qual teve de se desligar para "defender a sua dignidade." E prometeu para breve um livro sobre o processo judicial que o envolve.
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Na entrevista jornal Folha de São Paulo, José Sócrates falou sobre o processo Operação Marquês, comparou o seu caso com o de Lula da Silva, bem como a justiça portuguesa e brasileira. Apontou, porém, uma diferença: a forma como o PT esteve ao lado de Lula, ao contrário do PS.ao
Na opinião do antigo secretário-geral do Partido Socialista, há no processo em que está envolvido uma "dimensão política e uma dimensão pessoal", mas preferiu não comentar o lado pessoal, admitindo fazê-lo "um dia". "Vou escrever um livro sobre isto", promete.
Apesar de parco em palavras sobre algumas questões, José Sócrates comparou-se a Lula da Silva, sobretudo no que respeita ao comportamento do PS e do PT relativamente aos seus antigos dirigentes. "A diferença é que o PT manteve-se sempre ao lado do Lula. A primeira coisa que o Partido Socialista fez, foi procurar afastar-se. A verdade é que o PS, ao longo de dois anos, foi cúmplice de todos os abusos. Eu nunca pedi ao PS que me defendesse, mas nunca pensei que fosse o Partido Socialista a atacar-me a um ponto que me levasse a ter de defender a minha dignidade, tendo que me desligar do partido".
Na entrevista ao jornal brasileiro, o ex-primeiro-ministro reiterou a ideia de que o caso Operação Marquês obrigava legalmente a uma distribuição de juiz feita por "sorteio", como já tinha defendido num artigo de opinião na TSF, e garantiu que "a mesma coisa aconteceu no Brasil".
"O Estado escolheu um juiz de Curitiba quando está claro que a questão do triplex nada teve a ver com a Petrobras. Portanto, não deveria ser ele", reforçou José Sócrates. "Eu nunca tive um juiz imparcial. Não há julgamentos justos sem um juiz imparcial", acrescentou ainda.
O antigo líder do PS acredita que "está claro que houve uma motivação política" com a sua prisão e apontou o dedo à direita. "Tudo isso convinha à direita: tirar-me do espaço público, garantir que eu não me candidatasse à Presidência da República em 2015", sublinhou o antigo primeiro-ministro.
Sócrates assegura que "não fazia tenções disso", mas explica que os partidos à direita acreditavam nessa possibilidade e procuraram afastá-lo "do jogo".
No mesmo sentido, o ex-líder do PS - que deixou a militância em maio de 2018 - especificou ainda que, para perceber o caso judicial em que está envolvido é preciso "somar a motivação política da direita à vaidade dos personagens". "Eles acharam que havia chegado o momento para construírem as suas biografias políticas".
E, mais uma vez, Sócrates aproveita o mote para fazer uma comparação: "O dr. Moro também achou que havia chegado o momento para a sua glória. Para um lugar na política, ele fê-lo usando o seu lugar na justiça, o que é detestável, porque isso acaba sempre mal. Mal para a justiça e mal para a política".