Organização Mundial do Trabalho alerta para perigos das novas formas de emprego
Começa esta quarta-feira, em Fafe, a 5.ª edição do Terra Justa: o encontro internacional que debate as causas e os valores da humanidade. Os temas centrais deste ano são o trabalho, a liberdade e a saúde.
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O principal desafio da realidade atual é enfrentar as mudanças que o digital trouxe e as suas implicações no mercado de trabalho. A comemorar cem anos, a OIT - Organização Mundial do Trabalho centra atenções naquela que é uma das suas maiores preocupações: as formas atípicas de trabalho provocadas pelo digital: "Tínhamos o taylorismo industrial, hoje temos o taylorismo digital."
Maria Helena André, da OIT, refere como exemplo o trabalho em plataformas como a Uber, existentes a nível global, "sem sabermos onde o trabalhador está a desempenhar a sua tarefa, qual é a legislação laboral que se aplica, nem se esse trabalhador desconta para a Segurança Social".
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Desafios novos
Se as relações industriais do passado não eram adequadas, a forma como hoje encaramos o mercado de trabalho pode estar longe do ideal. "As organizações sociais tradicionais têm dificuldades em conhecer os seus congéneres que dão emprego nestas plataformas", diz Maria Helena André.
O horário de trabalho é outro exemplo bem concreto: quando têm os trabalhadores o direito a desligar? "O direito a não olhar para os e-mails e a não fazer mais nada é muito difícil", diz a representante da Organização Mundial do Trabalho, explicando que se perde "a fronteira entre a vida pessoal e a vida profissional".
Um século de OIT
Maria Helena André veio de Genebra, na Suíça, ao Terra Justa em Fafe, para mostrar o trabalho que a OIT tem desenvolvido ao longo dos seus 100 anos de vida. Mas sobretudo o que tem feito agora. E aponta-nos caminhos que podem ajudar a amenizar esta nova forma de trabalhar, que coloca em causa o trabalhador. "Temos que humanizar e voltar aos valores humanos", defende.
O trabalho continua a ser uma forma de integração social. Mas há que ser remunerado à altura daquilo que o trabalhador produz, e isso nem sempre está a acontecer.
Os níveis culturais e de educação são hoje mais elevados e, por isso, reflete-se mais sobre os assuntos, mas há problemas de há 100 anos que ainda hoje se mantêm. A desigualdade de oportunidades entre homens e mulheres é um dos exemplos mais flagrantes, resultando na pobreza no feminino durante a vida ativa e na reforma.