Há "meninos" de todas as idades na consulta que acompanha, vida fora, os sobreviventes de cancro pediátrico. O tema está em discussão em Lisboa até sexta-feira.
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Crianças, adolescentes, adultos. Quando o mal vai embora, todos têm lugar na chamada "Consulta dos Duros", que funciona no Serviço de Pediatria do IPO de Lisboa. É aqui que são seguidos, durante toda a vida, os que sobrevivem a um cancro que surgiu quando eram crianças.
Após dois anos de tratamentos e cinco sem qualquer sinal físico da doença, conquistam o "estatuto" de "D.U.R.O.S." - "doentes que ultrapassaram a realidade oncológica com sucesso". Atualmente, esta consulta apoia 740 pessoas que sobreviveram ao cancro na infância ou adolescência.
Ana Teixeira, a oncologista pediátrica que coordena a consulta, explica que o nome foi sugerido pelos pais de um doente. E fazia todo o sentido. "É gente muito rija, muito dura!". E assim ficou.
Na "Consulta dos Duros", há gente de todas as idades. Porque o cancro surgiu cedo, foi embora, mas a vigilância é para toda a vida.
"A criança mais velha tem 56 anos". Teve um cancro na década de 60 e foi inicialmente seguida no hospital de Santa Maria, em Lisboa. Passou depois para o IPO, com a equipa que fundou o Serviço de Pediatria.
Hoje, como qualquer outro "duro", tem visita obrigatória à consulta uma vez por ano. E é lá que faz uma vigilância médica geral.
Ana Teixeira reconhece que é "estranho", fora do comum, haver adultos num serviço pediátrico. Mas também sublinha que é melhor para os antigos doentes. Porque são seguidos por quem os conhece de pequeninos e "não exagera nos riscos futuros".
Por outro lado, sublinha a médica, é também uma aprendizagem constante para os médicos, numa ligação que se prolonga vida fora.
A sobrevivência ao cancro na infância ou adolescência é o tema de uma conferência a decorrer em Lisboa até à próxima sexta-feira, na Fundação Calouste Gulbenkian.
De acordo com o IPO, este tipo de cancro é a primeira causa de morte por doença em crianças e adolescentes. Por ano, Portugal regista cerca de 400 novos casos de crianças ou jovens com cancro. Na Europa, esse número sobe aos 13 mil.
Destes, cerca de 80 por cento conseguem ultrapassar a doença.