O grupo que fez comentários dirigidos a estudantes brasileiros de mestrado da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa nega que essa ação tenha tido qualquer objetivo racista. "Os marretas" assumiram-se como um grupo académico que recorre à sátira e ao humor para fazer a comunidade refletir sobre os seus problemas.
Corpo do artigo
"Os Marretas", autointitulado movimento cívico envolvido em polémica, no último 29 de abril, por colocar, na Faculdade de Direito da Universidade do Porto, caixa onde se lia "Grátis se for para atirar a um zuca (que passou à frente no mestrado)", recusaram esta quinta-feira as acusações de xenofobia de que têm sido alvo, e lamentaram, em comunicado, uma "descontextualização" e "interpretações erróneas".
O grupo alegou que o seu "estilo satírico, sarcástico e humorístico, politicamente incorreto, mas não moralmente falso" em nada se coaduna com a xenofobia e outros preconceitos. "Com um objetivo final de fazer a comunidade refletir sobre os respetivos problemas", "Os Marretas" dizem defender a igualdade no humor, e lembraram que já satirizaram muçulmanos, numa intervenção anterior.
"Os Marretas" aproveitaram ainda para frisar que têm "admiração pelos alunos luso-brasileiros e brasileiros que ergueram a sua voz para lutarem contra a xenofobia", num protesto em curso esta quinta-feira no perímetro da faculdade. "Reconhecem que é um problema real e gritante, e lamentamos que não tenha sido percetível que a sátira em questão visava meramente o regime de acesso aos mestrados", explicou o grupo satírico que não quer ser confundido com a Tertvlia, outra associação existente na Faculdade de Direito.
O movimento cívico argumentou que os limites da liberdade de expressão não foram ultrapassados, mas que, "atendendo às medidas desproporcionais que a questão já tomou, à descontextualização e às interpretações erróneas", é possível que tenham suscetibilidades. "Lamentamos que a interpretação literal da piada tenha levado a um grande desconforto e indignação, ignorando a dor de muitos colegas, deslocados e discriminados todos os dias", conclui o comunicado.
E contextualiza ainda: "As vagas para os mestrados abriram em março (antes de os alunos desta faculdade poderem terminar o curso), e os requisitos de acesso aos mestrados da nossa Faculdade eram exatamente os mesmos para alunos da Casa e internacionais. Se diferentes faculdades atribuem diferentes médias, com base em critérios diferentes, a culpa de os alunos da nossa faculdade não conseguirem aceder aos mestrados da mesma é do processo de seleção em si e nunca de quem se candidata, pelo que nunca houve o intuito de culpabilizar os nossos colegas brasileiros".
O ministro da ciência e ensino superior já tinha manifestado um grande repúdio pelo episódio que aconteceu na semana passada e levou o reitor da universidade a ordenar a abertura de um inquérito. O ministro lembrou que as universidades são espaços onde os estudantes estrangeiros sempre foram e serão bem recebidos