São esperados pelo menos 1500 participantes no cortejo deste ano
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A esferovite ganha forma nas mãos de José Barbosa da Costa, de 80 anos, e de Nuno Lagarto, de 50. Pai e filho, que respondem pela alcunha de “Mokuna”, nome de um antigo jogador do Sporting, que ficou conhecido como “fura redes”, são os obreiros do cortejo de carnaval de Arcos de Valdevez, que vai decorrer na próxima terça-feira à tarde.
José, que foi o primeiro a ser batizado ainda em criança com o apelido da velha glória leonina, por causa da sua habilidade para jogar à bola, num tempo em que também já esculpia bonecos “com uma faquinha” em casca de abóbora, foi responsável em 2003 pela reativação do carnaval local, juntamente com Rui Aguiam, presidente da associação Folia. E conseguiram nessa altura realizar a “maior concentração de palhaços do Mundo (1226)”, inscrita no livro de recordes do Guinness.
Desde aí, os festejos carnavalescos de Arcos de Valdevez, foram “crescendo”, sempre com os “Mokuna” a esculpir figuras e carros alegóricos, e, atualmente, a organização anuncia o evento como “o maior Carnaval do Norte de Portugal”.
“No norte do país não temos nenhum Carnaval com esta estrutura, com esta envergadura”, garante Rui Aguiam, indicando que para o cortejo deste ano, está prevista a participação de perto de 1200 figurantes de 20 associações daquele município, mais 15 comparsas galegas [grupos organizados de fantasiados] com os temas: Realeza de Luzes, Magia do Mar, Aromas do Carnaval, Natureza Carnívora, Eterna Veneza e Nossa Verbena. No total, são esperados pelos menos 1500 participantes.
“Com as nossas amigas comparsas da Galiza, passa a ser o maior Carnaval do Norte de Portugal transfronteiriço”, diz o presidente da Folia.
Num armazém próprio, Zé e Nuno 'Mokuna' ultimam ainda os preparativos para o desfile, esculpindo em esferovite, várias figuras e seis carros alegóricos: do rei e da rainha do carnaval (o radialista Jorge Quintas e a miss Alto Minho 2024, Ana Lago), do Camões, em alusão aos 500 anos do seu nascimento, dos Flintstones, dos palhaços e do circo.
A figura do palhaço continua a ser “o tema principal” desta quadra em Arcos de Valdevez.
À entrada da vila, numa rotunda, foi colocado no início de fevereiro, para anunciar a chegada do carnaval, um palhaço colorido com “mais de quatro metros”, talhado anteriormente pelo “Mokuna filho”.
“É o maior do país e foi feito todo em fibra. Quem passar e não conhecer, vai perguntar e acaba por vir ao carnaval. É um chamariz”, diz Nuno, que se mostra orgulhoso de continuar agora o trabalho iniciado pelo pai.
“Comecei quando tinha seis, oito anos, com aquela curiosidade de miúdo de tentar fazer alguma coisinha e foi crescendo o bichinho. É um legado de família para manter”, afirma, mostrando como esculpe figuras gigantes, como um busto de Luis de Camões, por vezes, com a ajuda de uma motosserra, em vez de faca, ainda usada pelo pai de 80 anos. “Tem de ser [a motosserra] para fazer certos cortes”, justifica, rindo, enquanto liga a máquina de corte.
