Os nossos hábitos mudaram durante a pandemia? A Big Data da Google diz que sim
Os dados captados pela geolocalização dos smartphones através do Google Maps mostram uma redução significativa de comportamentos diários em Portugal, durante o estado de emergência. Os números registados são muito superiores aos verificados noutros países e dizem-nos que estamos no bom caminho.
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Será que estamos mesmo a cumprir as recomendações das autoridades de forma a achatarmos a curva da pandemia? Estamos a respeitar as restrições que nos foram impostas e a ficar em casa? A Google diz que sim. A gigante tecnológica tem acesso a toda a informação da mobilidade dos utilizadores recolhida pelo Maps através da geolocalização dos smartphones e decidiu partilhá-la.
Os dados divulgados pela Google foram compilados e analisados por investigadores da Escola Nacional de Saúde Pública, que sublinham as potencialidades da informação recolhida. Na análise à comparação dos meses de janeiro e março, é possível concluir que, de facto, houve uma mudança significativa nos hábitos dos portugueses.
A mobilidade junto a restaurantes, centros comerciais, parques temáticos, museus, bibliotecas e cinemas foi a que teve a maior redução (-83%), segundo os números divulgados, uma tendência que naturalmente se justifica com as restrições impostas pelas autoridades de saúde.
Os dados dizem ainda que houve uma redução na ida aos supermercados e às farmácias (-59%) e menos passeios ao ar livre em parques e jardins (-80%). Os portugueses ouviram as recomendações das autoridades e, com a redução da frequência dos locais de trabalho (-53%), registou-se também um decréscimo na utilização do transporte público (-78%). Em contraste, e seguindo o conselho de ficar em casa, os dados divulgados pela Google permitem concluir que houve uma subida de 22% na frequência das zonas residenciais.
"Também há estes dados para outros países. Se formos comparar, os nossos resultados de contenção social, são muito superiores", explica à TSF, Alexandre Abrantes, da Escola Nacional de Saúde Pública, que analisou os dados da Google.
O professor especializado em Saúde Pública considera que por cá, os portugueses "estão a manter o distanciamento social", que se refletem nos boletins divulgados diariamente pela Direção-Geral de Saúde: "Se formos ver o número de mortos por dia, com quase quatro semanas de registos, vê-se que ainda estão a aumentar, mas nada parecido com a taxa de aumento por diário que havia no início. Dentro de uma semana ou duas, o número de mortos pode começar a baixar", antevê.
A importância da Big Data nos estudos epidemiológicos
O investigador Alexandre Abrantes, coordenador deste estudo, considera que o acesso a dados, como os que foram revelados pela Google, trazem muitas vantagens às investigações em Saúde Pública. "Até agora, os estudos epidemiológicos eram feitos por pessoal de Saúde Pública, que faziam um inquérito com amostras e ficavam ali. O que é interessante aqui é que estes dados não foram recolhidos para nenhum estudo. São dados recolhidos todos os dias, que pouca gente usa", refere, sublinhando as potencialidades no acesso à Big Data, normalmente pouco acessível aos técnicos.
"Há um registo do Google que, de alguma maneira, regista o comportamento das pessoas e esse comportamento determina, em parte, a sua saúde. Há no Big Data, por exemplo, dados de tudo o que compramos no supermercado. Se tivéssemos acesso a esses dados, podíamos fazer estudos da alimentação dos portugueses com a sua saúde", lembra Alexandre Abrantes, exemplificando ainda os estudos que são realizados sobre a poluição.
"São recolhidos diariamente milhões e milhões de dados sobre as pessoas e o ambiente e esses dados podem ser utilizados para fazer estudos de saúde", frisa o investigador, que revela ainda que a Escola Nacional de Saúde Pública vai solicitar à Google outros dados idênticos aos que constam no relatório de mobilidade.
