Os peixes também sentem stress e investigadores da Universidade do Algarve encontraram maneira de o reduzir
A experiência está a ser levada a cabo por biólogos do Centro de Ciências do Mar
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É ao ar livre, nos enormes tanques de terra da estação de aquacultura do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), em Olhão, que os biólogos do Centro de Ciências do Mar (CCMAR) estão a levar por diante uma investigação com douradas e robalos. Mas foi em tanques diferentes e mais pequenos que a equipa de Etologia e Bem-Estar de Peixes deste centro tentou medir o stress das douradas reprodutoras de aquacultura, como se comportavam quando era feito o trabalho habitual nos tanques.
"O que tentámos fazer na experiência é o que normalmente se faz: limpeza de tanques, dar ração, retirar peixes para vacinar", enumera Maria Cabrera-Álvarez. A investigadora da Universidade do Algarve conta que colocaram um pequeno dispositivo dentro dos peixes com cerca de dois centrímetros e 12 gramas que permite verificar o seu batimento cardíaco. Quando realizavam esses procedimentos, o batimento cardíaco dos peixes aumentava.
Maria é conhecida entre os colegas como a "mãozinhas de ouro", é ela que faz as cirurgias aos peixes e lhes coloca o pequeno dispositivo, uma técnica que aprendeu num laboratório em França. Depois de retirado o dispositivo que contém todos os dados, os biólogos ficaram a saber que em determinado dia e hora, (altura em que realizaram o trabalho nos tanques), as douradas tinham mais o stress.
O passo seguinte foi colocar nos tanques um sistema a que os investigadores chamam de "enriquecimento ambiental". Neste caso colocaram-se cordas na coluna de água para simular o meio-ambiente e os desafios que os peixes encontrariam no oceano.
João Saraiva, coordenador do projeto, conta que esse procedimento fez a diferença. "Os peixes que estavam nestes ambientes não aumentaram tanto o batimento cardíaco e conseguiam recuperar mais rapidamente", explica.
Além das cordas, consoante a espécie há vários sistemas que os investigadores podem utilizar para melhorar o comportamento dos peixes.
"Em França estão a fazer-se experiências utilizando utensílios para os peixes brincarem", assegura.
Na Noruega há também exemplos felizes na produção de salmão com dispositivos de "enriquecimento ambiental". "Um animal que esteja bem é mais resistente a doenças", garante João Saraiva.
O próximo passo na investigação é utilizar os tanques de terra da estaçao de aquacultura do IPMA, em Olhão para fazer outras experiências,agora com uma ilha flutuante, com douradas e robalos
Os investigadores já enviaram um relatório dando conhecimento à Comissão Europeia da sua investigação e das recomendações e estão convencidos que, se a indústria adotar estes sistemas que são baratos e fáceis de colocar nos tanques, a qualidade do peixe de aquacultura levado ao consumidor irá aumentar.
O relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), lançado este mês, destaca o crescimento da aquacultura e a sua contribuição para a produção mundial de alimento marinhos. A aquacultura fornece já mais de 50% dos alimentos marinhos a nível mundial revelou a FAO, que alerta, no entanto, para importância do bem-estar animal na prevenção e controle de doenças.
O documento aponta que o bem estar dos peixes ainda não recebe a atenção necessária e que a adoção de boas práticas melhora o bem-estar, previne doenças, reduz as perdas causadas por essas doenças e aumenta a rentabilidade das empresas de aquacultura.