"Os trabalhadores estão revoltados." Greve paralisa escolas, hospitais e municípios
A greve da função pública está a ter uma forte adesão e a afetar especialmente o funcionamento dos hospitais, escolas e serviços de recolha do lixo. A Fenprof anunciou que mais de 90% das escolas estão encerradas esta sexta-feira.
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Os funcionários do Estado estão em protesto contra o congelamento dos salários de 600 mil trabalhadores, que não evoluem desde 2009. O Governo pretende apenas aumentar o nível remuneratório mais baixo da administração pública, de 580 para 635,07 euros, na sequência do aumento do salário mínimo nacional para os 600 euros.
Em declarações à TSF, o secretário-geral da CGTP, afirmou que "há uma adesão generalizada dos trabalhadores da administração pública a esta greve".
José Abraão, secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública (SINTAP) diz que, "em muitos casos, [a adesão à greve] excede os 80%".
Na opinião do sindicalista, este impacto confirma a "indignação" dos funcionários da Administração Pública e "a exigência de serem valorizados e respeitados face à atividade profissional que desenvolvem e a importância que esta tem para melhorar a qualidade dos serviços públicos".
Arménio Carlos defende que o aumento dos salários é essencial para a criação de riqueza e para o desenvolvimento da economia do país.
"A economia pode subir por três vias: pelo investimento público, que continua muito condicionado pela redução do défice; pelas exportações, que estão a ser prejudicadas pela situação que temos na Europa; e pelo aumento da procura interna. Ora, se a esmagadora maioria das empresas trabalham para o mercado interno, a melhoria dos salários dos trabalhadores leva a uma melhoria dos seus rendimentos, logo, à dinamização da economia", expôs o secretário-geral da central sindical. "É precisamente por aqui que se tem de ir: distribuir a riqueza e aumentar os salários dos trabalhadores."
Questionado sobre se, com o Orçamento do Estado já aprovado e o fim da legislatura a aproximar-se, ainda haverá tempo para dar resposta às reivindicações dos trabalhadores da função pública, Arménio Carlos responde afirmativamente. "Há tempo. Necessariamente, há tempo", diz, lembrando que houve recentemente uma injeção de capital do Estado numa instituição financeira.
"Na semana passada houve tempo para socorrer, mais uma vez, em mil milhões de euros o Novo Banco. Portanto, se o Governo quiser, também pode imediatamente intervir para resolver este problema", responde Arménio Carlos.
A CGTP e a UGT são as duas centrais sindicais que estão a dinamizar este protesto da administração pública.
O jornal Público adianta que, desde o dia 1 de janeiro deste ano, foram entregues 112 pré-avisos de greve - o triplo do valor registado no último ano em que a 'troika' esteve em Portugal. De acordo com os dados oficiais do Ministério das Finanças, a contestação social dos trabalhadores da função pública disparou desde 2017.
Questionado sobre o aumento do número de pré-avisos de greve quando subiu ao poder um Governo PS apoiado pelos partidos mais à esquerda, José Abraão afirma que "foram criadas expectativas, houve crescimento económico, mas uma má distribuição do rendimento nacional".
"Os trabalhadores estão revoltados. (...) Queremos negociação, queremos que se salvaguarde os interesses dos trabalhadores da administração pública", sublinhou José Abraão.
"É sempre possível fazer mais e melhor. Com compromissos sérios e com respostas concretas, nem que sejam calendarizadas no tempo. E é esta dificuldade que temos encontrado no Governo", esclareceu.
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Adesão por todo o país
Mário Nogueira, em declarações à RTP em Coimbra, anunciava ao final da manhã que mais de 90% das escolas tinham encerrado esta sexta-feira, adiantando que a responsabilidade não é só, ou apenas, dos professores. A adesão dos funcionários à greve contribuiu para a decisão de fechar portas nos estabelecimentos de ensino.
De acordo com os dados disponibilizados pela Frente Comum relativos ao turno da noite, os hospitais de S. José e de Santa Maria (urgência e bloco), em Lisboa, registaram uma adesão de 100% e o Hospital D. Estefânia 98%.
Ana Avoila fala em mais de 80% de adesão em termos nacionais. "Temos distritos com as escolas todas paradas, com os serviços de saúde tudo a 100% dos mínimos e museus fechados e o Museu Nacional de Arqueologia a violar grosseiramente a greve, em que tem 90% de adesão e pôs os voluntários a substituir os grevistas", acusou.
A sindicalista fala de um país a meio gás e acusa ainda o Governo de arrogância.
Os hospitais Amadora/Sintra, de Gaia e de Chaves registaram 90% de adesão e nas unidades hospitalares de S. Francisco Xavier, de Santo António e Pedro Hispano, ambos no Porto, foi de 80%.
No Hospital de S. João, no Porto, a adesão relativa ao turno da noite foi de 75%.
Os dados da Frente Comum indicam também que em Coimbra, o Hospital da Universidade de Coimbra, a Maternidade Daniel de Matos, a Maternidade Byssaia Barreto, o Hospital Geral dos Covões e o Hospital Pediátrico estiveram só com os serviços mínimos.
Ainda na Região Centro, o Hospital de Pombal, Hospital da Figueira da Foz, Centro Hospitalar Entre Douro e Vouga (Santa Maria da Feira), Centro Hospitalar Baixo Vouga (Aveiro), Centro Hospital Tondela/Viseu, Unidade de Saúde Local da Guarda, Centro Hospitalar de Leiria e Centro Hospitalar do Oeste (Caldas da Rainha) também estiveram no turno da noite só com serviços mínimos.
Quanto à recolha noturna de resíduos, dados do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Administração Local e Regional (STAL) indicam que os serviços estiveram encerrados nos concelhos de Almada, Alcochete, Amadora, Évora, Loures e Odivelas, Moita, Palmela, Seixal e Setúbal.
No Funchal foi registada uma adesão de 60% no Funchal, 70% em Lisboa - Garagem dos Olivais, 50% em Sintra e 60% em Vila Franca de Xira.