"Pai e mãe do maior crescimento", "pai do empobrecimento" e "tio do resgate". Eis o Estado da Nação
Corpo do artigo
A polémica com o familygate no Governo socialista foi há quatro anos, mas o debate do Estado da Nação de 2022 ficou também marcado por relações familiares. Pai, mãe ou tio foram graus de parentesco trocados entre o Governo e o PSD, para combate político, onde as polémicas do último ano praticamente não foram assunto.
O caso de João Galamba e a alegada "pancadaria" nas Infraestruturas foi colocado em cima da mesa apenas por André Ventura, sem que tenha tido resposta do Governo. A polémica mais recente na Defesa ganhou voz por Mariana Mortágua. O debate ficou marcado, no entanto, pela política económica do Governo e o combate ao aumento dos preços.
16723554
Na véspera do Conselho de Estado, convocado por Marcelo Rebelo de Sousa, e antes que a oposição lançasse o tema da continuidade do primeiro-ministro, António Costa garantiu que o Governo planeia "as três próximas sessões legislativas", ou seja, até ao final da legislatura, com "estabilidade política".
Os graus de parentesco
Com acusações de "negação" pelo estado do país, o PSD tentou colar o Governo socialista ao empobrecimento e, daí, surgiram os graus de parentesco. Para Costa, o "partido do empobrecimento" é o PSD, lembrando que Rui Rio admitiu que aumentar o salário mínimo "era uma irresponsabilidade".
E, quanto ao Governo socialista: "Somos os pais e as mães do maior ciclo de crescimento do país". Numa referência aos últimos números da economia.
Na resposta, Joaquim Miranda Sarmento lembrou os resgates do Fundo Monetário Internacional, durante os Executivos socialistas. "Não sei se é o pai ou a mãe do segundo e terceiro resgate, mas do quarto é tio com certeza", disse, já que na altura o atual primeiro-ministro era Ministro da Justiça no Governo de José Sócrates.
O primeiro-ministro admite que as dificuldades existem, mas promete "trabalho" para resolver os problemas. Essa tem sido a tónica do atual Executivo, afirmou Costa, lembrando os vários apoios para as famílias e para as empresas.
Para Costa "há alternativa". "A alternativa é voltar para trás"
O primeiro-ministro admitiu que "o país tem muitos problemas", mas o Governo "sabe que os problemas têm de ser resolvidos". Foi assim, diz Costa, que o Governo virou a página da austeridade e respondeu à crise da inflação.
"Os problemas exigem respostas e soluções. É para isso que nós trabalhamos", atira.
Regressando à oposição, Costa lamentou que "nada proponham e tudo critiquem", reforçando que, com as medidas do Governo, os preços estão agora numa fase decrescente, dando o exemplo do IVA zero.
O Governo "continuará a governar a pensar nas pessoas", para "proteger o rendimento das famílias portuguesas". Ao contrário do que dizem muitos socialistas, Costa considera que "há uma alternativa". Mas a alternativa "é voltar para trás".
Costa compara Mortágua ao PSD. Sobre corrupção sublinha "independência" da justiça
O primeiro-ministro até começou por felicitar Mariana Mortágua pela coordenação do Bloco de Esquerda, desejando "felicidades tão grandes" como teve Catarina Martins. Mas, logo depois, lembrou que a maioria absoluta foi atribuída pelos portugueses após o chumbo do Orçamento do Estado pela esquerda.
"Convém ter alguma prudência. Decretar, menos de 24 horas depois da votação, que o programa Mais Habitação já falhou? Lamento, mas está na mesma posição que o PSD, desde 2015 à espera do diabo", atira.
O primeiro-ministro diz que o Governo "prefere a prudência do passo a passo", ao contrário do Bloco de Esquerda que "quer o triplo salto".
Quanto à corrupção, Costa sublinha que o Governo já pediu uma auditoria às contas da Defesa, para retirar lições internas do caso com Marco Capitão Ferreira. Diz Costa que "ninguém está acima da lei".
"Ninguém está acima da lei, seja secretário de Estado ou ministro. Essa é a maior confiança que os portugueses podem ter. O Ministério Público é independente e ninguém está acima da lei. No entanto, há o devido respeito pela presunção da inocência",
Costa lembra que todos os governantes que deixaram o Executivo por questões de corrupção, quatro membros, as investigações cingem-se a casos anteriores ao mandato de governante.
Pedro Nuno Santos chegou atrasado, mas a tempo do aplauso
Chegou alguns minutos atrasado, mas ainda a tempo de aplaudir efusivamente o discurso de António Costa. Pedro Nuno Santos, que agora deputado, depois de ter deixado o Governo, sentou-se na última fila da bancada socialista e foi de lá que ouviu António Costa falar dos "dois ministros que já deixaram o Governo".
Em resposta ao Chega, que lembrou as treze demissões, entre ministro e secretários de Estado, António Costa ironizou. Marta Temido e Pedro Nuno Santos têm agora mais popularidade: "Foi com pena que os vi sair, mas eles estão muito mais populares agora do que no Governo".
Pedro Nuno Santos e Marta Temido deixaram o hemiciclo pouco depois do final do debate, junto ao corredor do grupo parlamentar do PSD, mas não prestaram declarações aos jornalistas.
