Pais e diretores escolares "preocupados": mais de 1800 jovens admitem já ter sofrido bullying
Em declarações à TSF, Filinto Lima defende que o aumento de recursos humanos nas escolas pode "reduzir bastante a expressividade" deste fenómeno. Já a presidente da Confap, pede um maior investimento na prevenção, alertando para a necessidade de um enfoque "muito grande" na saúde mental e emocional
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Diretores de agrupamentos e associações de pais assumem "preocupação" com o bullying nas escolas, após quase 6% dos jovens que participaram num inquérito nacional terem admitido já ter sido vítimas deste tipo de violência.
Mais de 1800 jovens admitem já ter sido vítimas de bullying, sendo que a maioria são raparigas. Pelo contrário, os agressores são maioritariamente rapazes. A conclusão é de um inquérito realizado pelo Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida, onde participaram 31.133 jovens entre os 11 e os 18 anos.
Os números foram avançados esta segunda-feira pelo jornal Público, que cita a ministra da Juventude e Modernização. Margarida Balseiro Lopes considera que 6% é uma percentagem muito elevada, quando comparada com outros países, como a Dinamarca ou o Japão, que têm uma taxa de 2%.
O inquérito revela também que muito casos ficam por denunciar e são apontadas três razões: as vítimas têm medo de sofrer represálias, não confiam nas respostas que existem ou desconhecem os canais de denúncia.
Confrontando pela TSF com esta realidade, o presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas, Filinto Lima, alerta que a sociedade deve estar atenta às várias formas de bullying.
"[O bullying] é um fenómeno muito antigo, agora mais virado para o cyberbullying, que está a ganhar caminho em relação ao tradicional bullying e é um fenómeno ao qual devemos todos estar atentos, quer nas escolas, quer também na sociedade", avisa.
O líder da associação não esconde, por isso, a inquietação sentida perante o fenómeno, que "preocupa bastante os diretores e os professores das escolas",edefende que o aumento de recursos humanos nas escolas - sejam eles "assistentes operacionais, técnicos especializados, desde psicólogos, educadores e mediadores de conflitos" - podia "reduzir bastante a sua expressividade". No entanto, sublinha que este é um problema que deve ser combatido por toda a gente.
"É um combate das escolas, mas também é um combate da sociedade porque a escola é o reflexo da sociedade", argumenta.
A presidente da Confederação de Pais (Confap), Mariana Carvalho, lembra que os valores apresentados pelo inquérito não são aqueles a que o país está habituado.
"Do ponto de vista nacional, não são esses os valores que habitualmente ouvimos. Ouvimos valores mais baixos", sublinha, em declarações à TSF.
Mariana Carvalho confessa, por isso, que a atual taxa de alunos que admitem ter sido vítimas deste tipo de violência é motivo de preocupação.
"De facto, 6% é um valor que nos deixa a todos preocupados", assinala.
A líder da Confap nota que este fenómeno obriga a um maior investimento na prevenção, que passa desde logo por ações de sensibilização, mas exige sobretudo um enfoque "muito grande" na saúde mental e emocional de crianças e jovens, bem como da comunidade educativa.
"É por isso que a Confap defende a criação de gabinetes de apoio à comunidade educativa, para, nas escolas, começarmos primeiro a trabalhar estes assuntos", explica.
O estudo sobre bullying nas escolas portuguesas é apresentado esta segunda-feira na Escola Secundária Rainha D. Leonor, em Lisboa.