O "noivo candidato" rejeita ter "adversários" no partido e nega ser rosto da herança pesada dos maus resultados. No CDS, já competiu em várias frentes, mas não escapou à polémica por ter chamado "idiotas úteis" aos deputados da esquerda que apoiaram o governo da geringonça.
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Quem diria que a forma física pareceria a mesma catorze anos depois daquele congresso na Batalha, em que Ribeiro e Castro viu "o miúdo" do partido roubar-lhe 42% dos votos. Desta vez, decidiu ser candidato à liderança a poucos dias de casar. Vai à luta, diz, "sem adversários".
"Não sou candidato contra ninguém. Eu estive sempre disponível para colaborar, incluindo com aqueles a quem me opus, como foi o caso do José Ribeiro e Castro", refere, lembrando que foi "candidato contra" (o antigo líder), mas "quando chegaram as eleições autárquicas fui candidato e dei o meu esforço pelo partido naquilo que a direção de então entendeu que fazia sentido que desse".
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Vinte e sete anos depois de se ter tornado militante do CDS, João Almeida é aos 43 um veterano nas lides partidárias. É por elas que deixa as idas ao ginásio para segundo plano, percorre o país para conquistar votos num momento negro da história política do largo do Caldas, recusando carregar sozinho o fardo da pesada e herança.
"Eu, em todos os ciclos, privilegio aquilo que é a dedicação ao partido e poder ajudar o partido dentro do quadro que está definido, que não foi definido sequer pela Assunção Cristas, mas por mais de noventa por cento do congresso", sustenta. "Internamente, procuro dar o meu contributo para que as coisas corram o melhor possível e neste ciclo não foi diferente", assegura.
Acredita que na política, como no ginásio, é preciso suar a camisola. Já foi presidente da Juventude Popular, circulou pelos corredores autárquicos, foi secretário de Estado no governo de Passos e Portas e várias vezes deputado, tendo ficado famoso pelo cognome que deu, no parlamento, aos deputados da esquerda que apoiaram o governo da geringonça: "idiotas úteis".
"Os senhores refugiaram-se na oposição para que alguém limpasse o que tinham feito e ficaram à espera que o poder vos caísse na mão. Os portugueses não vos deram esse poder e os senhores foram oportunisticamente bater à porta dos idiotas úteis para vos apoiarem o governo e conseguirem o poder que não tiveram nas urnas", acusou João Almeida, dirigindo-se à bancada do PS, na Assembleia da República, durante o debate do orçamento do Estado de 2016, provocando reações acaloradas dos deputados do Bloco de Esquerda, PCP e PEV.
Como um peixe na água, trata por "tu" cada cenário do dia-a-dia do partido. Dedicado, diz que aprendeu a trabalhar com Maria José Nogueira Pinto -figura que mais admira na política, seguida de Paulo Portas --, mas jura que a grande paixão que acalenta não é o CDS.
"Não, paixão é o Belenenses!", confessa entre risos. "O CDS é uma escolha racional, motivada pelas minhas convicções e uma dedicação muito grande. A escolha clubística é mais difícil de explicar. A escolha partidária é uma escolha racional e uma opção consciente", acrescenta.
Apesar da má memória do tempo em que comandou os destinos do histórico clube lisboeta, a paixão de Almeida continua lá. A vida é que é outra. "Neste momento, como o Belenenses joga no distrital de Lisboa e eu vivo em São João da Madeira, não é fácil", explica o candidato.
É na terra de sempre que gosta de estar, joga em casa no congresso de Aveiro e sabe que até ao apito final nada está garantido. Se vencer, "logo na segunda-feira vou organizar a volta das bases que é por onde eu acho que o partido tem de começar".