"Palavras de quem tem uma pedra no lugar do coração." Vida Justa acusa Ricardo Leão de "mentir" e de "tentar salvar pêlo político"
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O Movimento Vida Justa reagiu de imediato às declarações do presidente da Câmara de Loures esta terça-feira à noite, que fala de "uma rede criminosa" no Bairro do Talude, acusando o autarca de "mentir" e de tentar "desacreditar" as suas vozes.
Em declarações à TSF, o porta-voz do movimento Vida Justa, Gonçalo Filipe, acusa o autarca de Loures de estar a "tentar salvar o seu pêlo político, descurando-se da sua responsabilidade que é contribuir com políticas para que o seu território tenha pessoas a viver em casas — pessoas que trabalham, que têm salários, contratos de trabalho e que não têm uma casa".
Sobre se nega a comercialização destas barracas, Gonçalo Filipe lembra apenas que nos bairros auto-construídos os moradores são empurrados para "inúmeras situações terríveis", nomeadamente "ficar dependente de pessoas que se possam aproveitar delas".
"O que eu não nego, ao contrário de Ricardo Leão, é a responsabilidade que um presidente de câmara tem em resolver os problemas do seu território de forma a poder alojar pessoas", sublinha.
Indo mais longe, o Movimento Vida Justa acusa mesmo Ricardo Leão de "mentir" na questão dos apoios alegadamente prestados pela autarquia. Gonçalo Filipe afirma que as pessoas estão a ser conduzidas para o gabinete de ação social de Loures para assinarem um papel "em como aceitam a ajuda de um mês de renda e de caução — que neste momento já tem um teto limite, que são 400/500 euros".
"Pergunto a Ricardo Leão onde é que ele arranja casas para famílias inteiras a 400/500 euros. Que partilhe com as pessoas, porque está toda a gente a precisar. E sabendo muito bem que as pessoas não vão conseguir celebrar o contrato de arrendamento necessário para poder usufruir desse apoio", denuncia.
Gonçalo Filipe entende, por isso, que as palavras do autarca foram de alguém que tem "uma pedra no lugar do coração". E sublinha que o presidente da câmara de Loures decidiu "criminalizar pessoas que estão numa situação de aflição" e um movimento social — "algo sem precedentes por parte de Ricardo Leão, por parte do PS".
Foram palavras de quem tem uma pedra no lugar do coração.
Gonçalo Filipe sublinha que a situação que encontra no terreno é muito diferente daquela que foi descrita pelo autarca de Loures.
"O que eu tenho visto no terreno são pessoas que estão aflitas para manter o seu trabalho e os seus filhos na escola, estiveram meses e meses a serem atacadas pela câmara, houve várias tentativas de demolições das suas casas - que eram o último reduto para poderem ter um teto", lamenta.
O Movimento Vida Justa não tem, para já, nenhuma ação planeada, mas vai reunir no fim de semana com os moradores.
O presidente da Câmara Municipal de Loures revelou esta terça-feira à noite que apresentou uma queixa-crime ao Ministério Público (MP) denunciando uma "teia criminosa" de "comercialização de barracas" no bairro do Talude Militar. "Estão a comercializar barracas a dois mil e três mil euros cada cinco metros quadrados, com garantia de luz e água", afirmou Ricardo Leão, numa cimeira organizada pela SIC Notícias, apontando que entre março e julho "quadriplicou o número" de habitações precárias no Talude Militar. Questionado pelos jornalistas da SIC Notícias sobre que "teia criminosa" é essa, Ricardo Leão adiantou: "É uma só pessoa, que está identificada, que tem lá uma barraca também."
Ricardo Leão acusou ainda o movimento Vida Justa de "prejudicar as pessoas" do Talude, "proibindo-as de falarem" com os técnicos da autarquia. "O Vida Justa está a manipular estas famílias", apontou, garantindo que a autarquia anda "desde março a falar com todas as pessoas" do Talude Militar, onde o movimento cívico tem apoiado os moradores, nomeadamente angariando donativos.
"Tinha que se estancar um problema", vincou Ricardo Leão na cimeira, recordando que neste mandato já fez "250 demolições".
O problema "não é de agora", vincou, falando numa situação "incontrolável" e em que se generalizou "a ideia de que em Loures podem construir" habitações ilegalmente.
Ricardo Leão referiu ainda que perto de metade dos moradores do Talude Militar são de fora do concelho - o que tem sido contestado pelas associações no terreno.
A câmara "assegura todo o apoio social para [os moradores que ficaram sem teto] não dormirem na rua" e "oferece dormida para todos", garantiu ainda, "com toda a frontalidade", que essas pessoas "dormem [ao relento] porque querem".
O autarca adiantou ter pedido em março uma reunião ao primeiro-ministro, Luís Montenegro, estando ainda à espera de uma data.
*Notícia atualizada às 11h58 com as declarações de Gonçalo Filipe à TSF