Nasceu em Nova Iorque pelas mãos e empenho de uma jornalista brasileira e hoje chega a Lisboa. O "The Pessoa Festival" vira Festival Pessoa e junta escritores e críticos literários de várias geografias da lusofonia.
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A primeira edição foi em Nova Iorque, no ano passado. Hoje chega a Lisboa e abre as primeiras páginas - já que de livros e conversas sobre literatura aqui se trata - no hotel do Chiado onde, há mais de cem anos, a Tipografia do Comércio imprimia a revista Orpheu, por onde passou a escrita e as palavras de Fernando Pessoa, Almada Negreiros e Mário de Sá Carneiro.
A génese do festival é a Revista Pessoa, revista online de literatura , fundada em 2010 por Mirna Queiroz: "O festival é o desdobramento de um festival que aconteceu o ano passado em Nova Iorque para celebrar uma parceria que a Revista Pessoa tem com a revista norte-americana Words Without Borders". Palavras sem fronteiras: "tão bonito em português, né?", atira a jornalista que trocou São Paulo por Lisboa no início do ano.
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Mirna Queiroz reconhece que à Revista Pessoa "faltam mais autores portugueses; noventa por cento da revista é composta por publicações de autores brasileiros e a ideia é ter mais africanos de língua portuguesa e mais portugueses". A organizadora do Festival Pessoa quer atrair um público "não necessariamente acostumado ou habituado", pelo que a ideia foi fazer "um programa diversificado, com circuitos literários, com passeios".
O programa do festival, desta quarta-feira até sábado, inclui percursos a pé por cafés, livrarias, por sítios de Lisboa que são referência na vida e obra de Fernando Pessoa e até um passeio de barco no Tejo: "essa atividade chama-se Navegar É Preciso e a ideia é reunirmo-nos nesse barco para ler trechos de obras e depois dar uma volta pelo rio. Todas as discussões na programação tentam promover um diálogo entre Fernando Pessoa e a contemporaneidade".
Queiroz assume o significado especial de ter trazido para a capital portuguesa uma revista de literatura que nasceu em São Paulo: "tem uma força simbólica incrível", embora destaque que a revista também "já foi feita em Nova Iorque, já circulou o mundo todo, já esteve em Luanda, nos Emirados Árabes e a minha mudança para Lisboa não podia ter acontecido num momento melhor. A cidade e o país estão muito abertos à cultura brasileira. A África passa muito por Lisboa. No Brasil eu não tinha acesso à literatura africana, lá é muito difícil acompanhar e África passa muito por Lisboa; aqui tenho mais contacto com os escritores africanos, é uma virada de página na revista, é uma nova etapa".
Além de quatro escritores brasileiros, a primeira edição lisboeta do Festival Pessoa contará com um jovem escritor moçambicano Lucílio Manjate, "uma grande promessa da literatura moçambicana da nova geração. Dos brasileiros, o Estevão Azevedo já está publicado em Portugal, vem também a Ana Kiffer que tem participado em muitos eventos aqui em Portugal, vem o Alexandre Vidal Porto, Caroline Rodrigues, uma excelente contista também premiada no Brasil", afirma Mirna Queiroz. Alexandra Lucas Coelho, Tatiana Salem Levy, Matilde Campilho, Djaimilia Almeida Pereira, também estarão entre os presentes. São dias para partilhar experiências e vivências e dar conta da força e riqueza das várias geografias da literatura em português.