Pandemia atrasou entrega de cães-guia. Escola de Mortágua a caminho da 250.ª entrega
Esta quarta-feira celebra-se o dia internacional do cão-guia. Única escola de cães em Portugal está sediada desde 2000 em Mortágua.
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Criada em 2000, a escola de cães-guia de Mortágua, a única existente em Portugal, conta entregar o 250.º animal a um cego no próximo verão. Vai ser um dia de "festa" na Associação Beira Agueira de Apoio ao Deficiente Visual, assume o dirigente da instituição social João Fonseca.
"É evidente que não estão todos a trabalhar, a trabalhar estarão 130. Os cães não são máquinas, vão se reformando, outros vão falecendo, há pessoas cegas que já vão no terceiro cão", explica.
Um dos animais que já se aposentou foi o Dari. Com 14 anos, o labrador, de cor bege, começou a trabalhar com dois. Esteve uma década ao lado de um invisual, telefonista de profissão.
"O Carlos Dinis que é uma pessoa cega que trabalha em Lisboa e vive em Mem Martins e, portanto, teve as suas funções enquanto cão-guia durante o tempo útil que foi possível obter e depois quando há o momento em que o cão começa a ter alguma dificuldade de locomoção, começa a merecer a sua reforma", explica.
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Dari está "velhote" e surdo. Não ladra porque foi treinado nesse sentido. Foi substituído por outro cão, o Cookie. Agora, tal como aconteceu com outros colegas, está na "sua reforma dourada", como refere João Fonseca.
"Estão aqui a comer e a beber, como bom trato, boa comidinha e bom descanso, que também merecem", salienta.
Em média, cada animal está ao serviço por 10 anos. A escola entrega um cão-guia por mês.
[O animal] já está escolhido e selecionado, houve uma fase de pré-seleção quer do cão, quer de avaliação da pessoa, para ver a sua forma de andar, mobilidade, orientação, modo de vida, o tipo de casa que tem, onde trabalha, o tipo de emprego, o trajeto que faz. Tudo é avaliado para tentarmos encontrar o cão mais adequado à situação da pessoa", adianta João Fonseca.
Cego e cão-guia têm alguns meses para se adaptarem e formarem uma dupla.
A pandemia da Covid-19 atrasou todo o processo e teve um impacto fortíssimo, nas palavras do dirigente da Associação Beira Agueira de Apoio ao Deficiente Visual.</p>
"Durante quase 24 meses muitos dos nossos cães ficaram basicamente parados. Houve cães que estavam para ser entregues a famílias de acolhimento que foram reformados, que perderam aptidões, ganharam fobias, medos, taras, o que nos prejudicou muito", adianta, salientando, que outros animais "que tinham acabado de ser entregues" tiveram que entrar de novo num "processo de reaprendizagem e reeducação, o que "aumentou brutalmente o trabalho" dos técnicos da instituição social.
"Houve uma quantidade de entregas que o cego não veio à escola receber o cão porque não queria sair de casa", acrescenta.
A escola de cães-guia está agora a tentar recuperar esse tempo perdido.