Pandemia chegou a Sistelo e maiores de 80 temem mais a doença do que a vacina
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Dos 220 habitantes da freguesia de Sistelo, em Arcos de Valdevez, "cerca de 40%" têm mais de 80 anos. Isolados nas suas casas espalhadas por locais recônditos na serra, mais do que recear a vacinação, que está prestes a começar contra a covid-19, os idosos temem que a doença lhes bata à porta.
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A freguesia atravessou a primeira vaga da pandemia sossegada, sem um único caso, mas conta agora 11 infetados e já um óbito. O autarca Sérgio Rodrigues, diz que há medo nas aldeias e que espera que a população adira à vacinação, à semelhança do que aconteceu com a vacina da gripe. O processo decorreu na sede da Junta e foi esta que transportou os idosos que vivem afastados do centro da freguesia e "na sua maioria não têm transporte". "Correu muito bem, mas desta vez [em relação à vacina da covid] há muita contra-informação e há pessoas com bastante receio. A informação, por vezes, não chega às aldeias da melhor forma", afirma.
"A vacina para essa coisa que anda aí? Pode ser [que tome]. Tenho muito medo do vírus e a vacina também me arrepia. Já tenho tomado outras e tenho aguentado, mas tenho é medo dessa porra que anda aí. E é para ter. Morre tanta gentinha...", confessa António Alves de 88 anos, que vive em Porto da Cova, um lugar isolado e afastado do centro da freguesia de Sistelo. Apesar dos receios, o octogenário admite que mais vale ser vacinado. "Vamos ver se valerá alguma coisa", diz.
Na Portela de Alvito, num dos extremos de Sistelo, Ilda Alves de 89 anos, que passa o dia recolhida em casa ao pé da lareira, dá o braço à vacina sem medos. "Então a outra gente vacina-se e eu não me hei-de vacinar porquê? Se morrer já tenho a idade. E se não morrer quero-a. Não tenho medo nenhum", diz, rindo, enquanto debulha uma espiga de milho. "Tenho medo à doença, mas à vacina não. Fiquei contente quando apareceu, porque há muita gente nova que morre e com a vacina já não morrerá tanta", comenta.
Vitalina Gonçalves, que também passa o dia "ao lume", fechada em casa no Lugar da Estrica. "Aqui essa doença não entra. A porta está sempre fechada e ela a mim não me topa", diz do alto dos seus 97 anos, que já não há covid-19 que lhe pegue, nem vacina que lhe valha. "A idade já é muita. Agora está a terra à minha espera. Para mim e para outros como eu já não há remédio. Para os novos é que pode haver um 'remédinho'", concluiu.
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