"Pântano político" na "república das bananas". Partidos pedem demissão de Pedro Nuno Santos
Após António Costa ter revogado o despacho de Pedro Nuno Santos sobre o novo aeroporto, a polémica esteve em debate no Fórum TSF, com a Iniciativa Liberal, Chega e PCP a criticarem a forma de atuação do ministro das Infraestruturas. No Parlamento, os restantes partidos também reagiram ao tema.
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Estamos a assistir a um braço de ferro no Governo. É esta a leitura do líder da Iniciativa Liberal (IL) sobre a reviravolta, em menos de 24 horas, na posição do Governo sobre o novo aeroporto. No Fórum TSF, Cotrim de Figueiredo falou numa luta interna pela sucessão na liderança do PS, que sacrifica o interesse público, e não vê saída que não seja a demissão de Pedro Nuno Santos.
"Portugal parece uma república das bananas. Temos um primeiro-ministro que não tem autoridade sobre o seu próprio Governo, um Governo que tem três meses de funções e que tem maioria absoluta e que devia, por isso, ser mais estável e ter mais mão naquilo que se passa e temos um ministro - e se calhar não é o único - que acha que pode fazer o que quer no Governo sem informar a quem de direito", afirmou.
O líder da IL considerou que este caso "já não é uma questão política, é uma questão de dignidade pessoal perante uma humilhação pública destas".
"Provavelmente estamos a assistir a um braço de ferro em que o primeiro-ministro acha que não deve demitir o ministro e o ministro acha que não se deve demitir, cada um empurra para o outro o ónus de sair do Governo. Estamos a assistir, em prejuízo do país, uma luta interna do PS para a sucessão de António Costa", concluiu.
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Chega considera que "existe um mal-estar entre António Costa e Pedro Nuno Santos"
Pelo lado do Chega, Pedro Pinto, ouvido no Fórum TSF, vê um Governo a desagregar-se. O deputado defendeu a demissão de Pedro Nuno Santos, mas não põe as mãos no lume.
"Isto prova, ao contrário do que disse o senhor primeiro-ministro, que este Governo não está coeso e muito menos é credível. Falta coesão no Governo, percebe-se aqui que existe um mal-estar entre António Costa e Pedro Nuno Santos e não queremos pensar que não há diálogo entre o primeiro-ministro e os seus ministros. Pedro Nuno Santos não poderá continuar neste Governo, mas com a ministra da Administração Interna, com o ministro Eduardo Cabrita, inclusive agora com a ministra Marta Temido, percebemos que António Costa gosta muito de segurar os seus ministros no Governo", disse.
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"Governo mantém postura de submissão aos interesses da ANA", defende PCP
Já o Partido Comunista Português sugeriu que, por trás de tanta revolta, estão os interesses da empresa gestora dos aeroportos que é responsável pela construção da nova infraestrutura.
Também no Fórum TSF, a líder parlamentar comunista, Paula Santos, notou uma falta de firmeza do Executivo.
"O que isto revela é uma grande descoordenação, uma fragilidade das opções do Governo, mas uma questão ainda mais preocupante: entre os interesses da ANA e entre os interesses nacionais, o Governo mantém uma postura de submissão àqueles que são os interesses da ANA. É preciso ter presente que até à privatização da ANA, havia um amplo consenso no país. Não havia contestação de ninguém relativamente à solução de construção do novo aeroporto de Alcochete", considerou.
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Demissão de Pedro Nuno Santos "não é um assunto que diga respeito ao grupo parlamentar do PS"
Já em declarações aos jornalistas nos Passos Perdidos do Parlamento, Eurico Brilhante Dias, líder parlamentar do PS, recusou comentar a polémica sobre o novo aeroporto de Lisboa.
Questionado sobre o futuro do Executivo, o deputado afirmou que "o grupo parlamentar do PS não sabia nem tinha de saber" sobre a possível demissão de Pedro Nuno Santos. "A condução e orientação do Governo é exclusiva do primeiro-ministro e, portanto, esse não é um assunto que diga respeito ao grupo parlamentar do PS", concluiu.
"Não vejo condições para este ministro continuar", diz Rio
Rui Rio considerou que a "decisão unilateral" do ministro Pedro Nuno Santos sobre uma nova solução para o novo aeroporto de Lisboa é "de extrema gravidade", tendo faltado "ao respeito ao primeiro-ministro".
"Este ministro não tem condições para estar no Governo", afirmou o líder do PSD. "Este ministro já não devia estar no Governo por uma série de outros dossiers, nomeadamente o da TAP", assinalou. Por isso, "o primeiro-ministro não tem outra solução que não seja demitir este ministro depois de tudo o que aconteceu e como ele se comportou já no Governo anterior".
"Se o ministro continuar em funções, o Governo está numa situação de confusão geral", sublinhou, defendendo que se o primeiro-ministro não demitir Pedro Nuno Santos, o Presidente da República deveria "forçar essa demissão".
"Se o Governo assobiar para o ar e tudo continuar na mesma, o Presidente da República deve ter uma intervenção. Isto é algo de quase inédito", frisou, concluindo que "isto é manifestamente uma derrota para o Governo".
BE considera maioria absoluta do PS o "pântano político do país"
O Bloco de Esquerda, representado por Pedro Filipe Soares, disse que António Costa "deve explicações ao país" sobre a solução para o aeroporto de Lisboa.
Para os bloquistas, Portugal está a assistir a um "caos político", referindo que a "maioria absoluta do Partido Socialista é o pântano político do país".
É incompreensível que o primeiro-ministro esteja a tomar estas decisões sem explicar ao país o que está a acontecer no seio do Governo", afirmou o deputado do BE.
"É uma trapalhada." PAN critica forma de comunicação do Governo
Inês Sousa Real, do PAN, reagiu à revogação do despacho sobre a solução do novo aeroporto de Lisboa, classificando de "trapalhada" a comunicação do Governo nas últimas horas.
"Parece-nos relevante que uma matéria tão importante para o país não tenha passado pelo conhecimento do Presidente da República ou por uma auscultação prévia de todos os partidos da oposição", considerou a deputada.
"A decisão de travar este despacho é uma decisão sensata, ajuizada. Devemos aguardar pela avaliação ambiental estratégica para precisamente percebermos qual a melhor solução para o país", sustentou Inês Sousa Real.
Livre fala em "solução sem sentido" do Governo sobre novo aeroporto de Lisboa
Rui Tavares, do Livre, disse que a solução apresentada esta quarta-feira pelo Governo para o novo aeroporto de Lisboa "não fazia nenhum sentido". "Ainda bem que a oposição interna no governo, pelos vistos encabeçada pelo próprio primeiro-ministro, se encarregou de a desfazer", acrescentou.
"O Governo devia dedicar-se a governar e devia deixar a oposição para a oposição. Embora havemos de concordar que acaba por se revelar muito eficaz nessa oposição interna ao próprio governo (...)", considerou.
O deputado único do Livre desvalorizou uma eventual demissão do ministro das Infraestruturas e Habitação, Pedro Nuno Santos, dizendo que não o preocupa o "futuro imediato deste ou daquele ministro" mas sim "o futuro de uma decisão para o país".
CDS pede demissão de Pedro Nuno Santos
Através da rede social Facebook, o presidente do CDS, Nuno Melo, defendeu a demissão de Pedro Nuno Santos e acusou o Governo do PS de governar de forma "ligeira e incompetente".
O líder dos centristas afirmou que este é mais "um exemplo da forma ligeira e incompetente com que o PS no governo decide politicamente em Portugal", considerando que este executivo está "em roda-viva".
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* com Manuel Acácio e Clara Maria de Oliveira
