Em Castro Laboreiro, no extremo norte de Portugal, ainda se faz pão à moda antiga.
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Na aldeia moldada pelo granito e pelos rigores climatéricos da região das brandas e inverneiras, por onde correm garranos e cães da famosa raça local, o pão castrejo ainda resiste.
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No lugar de Vido, a três quilómetros de Castro Laboreiro, Almerinda Rodrigues, Rosa Martinho e Isalina Pereira, mulheres de duas gerações, meteram mãos à massa e prepararam uma fornada à moda antiga. Almerinda Rodrigues, 79 anos, quase a bater nos 80, com o saber de experiência feito, foi explicando todo o processo e preparando o forno, enquanto recordava os tempos em que o povoado tinha mais habitantes que os sete atuais e o rebanho contava com duas centenas de cabeças, entre ovelhas e cabras.
Resignada, Rosa Martinho, 78 anos completados, enuncia as casas hoje desabitadas e aponta com o dedo em várias direções. Sabe de cor para onde foram os que partiram em busca de uma vida melhor, com maior comodidade.
À conversa vêm estórias de tempos idos, quando havia bruxas por aqueles lados, como afiança Almerinda Rodrigues, desfiando, entre sonoras gargalhadas, alguns episódios ocorridos naquela terra onde o contrabando era prática mais ou menos generalizada.
O pão foi cozendo no forno, cumprindo-se rituais e preceitos ancestrais. O primeiro pão a sair, a tenda, como por ali lhe chamam, é para repartir, manda a tradição castreja. Mas, é preciso alguma cautela, como Isalina Pereira adverte, quando os pães, bem quentes, são colocados no tabuleiro de madeira mesmo ao lado do forno.
Perto dali, o velho forno comunitário espelhava a ignomínia do abandono, enquanto a água continuava a correr na fonte da empinada rua empedrada, onde um púcaro de esmalte, que já terá dado de beber a muitos caminhantes sequiosos, baloiçava ao sabor do vento fresco.
Com pão quente no bornal e sem beber água fria, era tempo de partir. À redescoberta da região de Castro Laboreiro.