"Para grandes males, grandes remédios." José Tribolet entende veto às tecnologias chinesas 5G
O Conselho Superior de Segurança do Ciberespaço considerou o acesso à rede 5G de empresas de fora da União Europeia ou da NATO como de alto risco.
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O professor catedrático do Instituto Superior Técnico José Tribolet considera que o veto às tecnologias chinesas no desenvolvimento do 5G em Portugal é um remédio para um "grande mal".
"É uma questão prudencial e para grandes males, grandes remédios. Para mim fazia mais sentido era no âmbito europeu ou ocidental impor um conjunto de normas e mecanismos de auditoria e verificação em tempo real. Aparentemente isso não é trivial de fazer ou conseguir. A solução foi cortar", disse à TSF José Tribolet.
O Conselho Superior de Segurança do Ciberespaço considerou o acesso à rede 5G de empresas de fora da União Europeia ou da NATO como de alto risco, excluindo empresas chinesas como a Huawei e a ZTE, já que as leis de Pequim obrigam as empresas que trabalham fora do país a colaborar com os serviços de recolha de informação.
José Tribolet reconhece que as empresas chinesas têm um longo historial de espionagem: "Os chineses foram os primeiros a avançar para o 5G, portanto, têm muito avanço. Fizeram espionagem industrial na Europa brutalmente. E a Europa, nomeadamente as entidades académicas, foram de uma ingenuidade atroz. Muitos estudantes de doutoramento chineses que trabalhavam e estudam em ambientes ocidentais, durante anos andaram a copiar e a mandar para a China informação privada, resultante de investigação de projetos europeus que eram muito avançados."
No entanto, diz o especialista, "não é essa a razão principal por trás desta questão de segurança, embora toda esta espionagem industrial que a China faz como estado é uma fonte de preocupação enorme".
José Tribolet explica que o que está em causa não é o uso de telemóveis, por exemplo, mas de equipamentos que sustentam a transmissão de dados.
"Os servidores de rede onde os dados dos nossos, não só telemóveis, dispositivos da chamada internet das coisas, portanto, os dispositivos que estão por todo o lado, os radares das estradas, os sensores de segurança das casas, as câmaras de vigilância. Está e vai estar tudo a fazer conversação em tempo real através do 5G da internet. Pessoas e coisas. Estão todos a trocar dados e esses dados todos fluem da sua origem para servidores em nós da rede onde depois são distribuídos e encaminhados. A tecnologia destes servidores é que é o problema principal. É aí que a fuga de dados se pode dar. Em vez de irem só para o seu destino normal, vão também para outros nós que são de forças de segurança e espionagem chinesas ou outras", revela.