"Para representar a realidade, Aliados teriam de estar cobertos de corpos." Vigília pela Palestina exige ao Governo que cesse relações com Israel
Bárbara Sousa, com a sua filha de oito meses nos braços, diz à TSF: "Sinto-me uma privilegiada por poder protegê-la." Por sua vez, um turista norte-americano pede desculpa pela cumplicidade do governo Trump com a catástrofe que está a acontecer em Gaza
Corpo do artigo
Bandeiras da Palestina, música, faixas de protesto e mais de 60 bonecos estendidos na calçada, que simbolizam as crianças mortas em Gaza. Foram embrulhados num lençol como se de um cadáver se tratasse e têm tinta vermelha, a imitar sangue. Alguns têm as mãos atadas, outros os olhos tapados e ligaduras à volta da cabeça.
É uma imagem arrepiante, mas a ativista Sara Natária diz, em declarações à TSF, que está longe de ser realista. "Se nós quiséssemos representar a realidade, toda a Avenida dos Aliados teria de estar coberta de corpos", assinala.
Quem passa na manifestação, mesmo em frente à Câmara Municipal do Porto, não fica indiferente ao que vê. Uma dessas pessoas é Bárbara Sousa, mãe de dois filhos, e traz consigo a mais nova: "A Amélia tem oito meses e é o segundo protesto a que ela vem pela Palestina, infelizmente."
Emocionada, explica porque veio: "Sinto-me uma privilegiada por poder proteger os meus filhos. Não há nenhuma diferença entre mim e qualquer outra mãe na Palestina, eu simplesmente nasci aqui."
Ao longo da manhã desta quarta-feira, várias pessoas deixaram na calçada, ao lado dos bonecos, objetos como sapatos de crianças, brinquedos e embalagens vazias de fórmula de leite para bebé. Diana, que trouxe este último, sublinha que é para representar a fome que estas crianças vivem em Gaza.
A TSF encontrou um turista norte-americano, do estado da Califórnia. Com lágrimas nos olhos, conta que onde quer que vá vê protestos como este e sente que deve pedir desculpa pelo "cumplicidade" do governo de Trump. "É horrível, simplesmente horrível", carateriza.
Todas as noites há uma vigília pela Palestina nesta praça. Foi João Pedro Krug que começou com esta iniciativa. À TSF, aborda a razão que o levou a ele, juntamente com outros ativistas do Coletivo pela Libertação da Palestina, a avançar para um protesto mais longo: "Aumentar a pressão e exigir ao nosso, pelo menos ao nosso, Governo que tome uma decisão perentória perante esta situação. Que corte imediatamente as relações diplomáticas e económicas que continua a alimentar com o Estado israelita. Está-nos a tornar cúmplices, está a banhar as nossas mãos com sangue. É inaceitável para qualquer português."
Isabel Oliveira é explicadora de matemática e também fez parte da organização desta vigília. A portuense revela que há mais atividades reservadas para esta quarta-feira: "Vamos ter workshops de pintura de t-shirts, vamos ter momentos de poesia, vamos bater com os tachos."
A vigília pela Palestina vai estar esta quarta-feira na Praça Humberto Delgado, em frente à Câmara Municipal do Porto. Inicialmente, era para durar 24 horas, ou seja, até às 09h00 de quinta-feira, mas, devido a restrições impostas pela autarquia, vai durar até às 00h30. Os ativistas consideram que esta restrição é um limite à liberdade de expressão e ao direito de manifestação.
