"Parecemos palhaços no circo." Coletes queriam povo unido, mas no Marquês pairou a desunião
O Marquês de Pombal assistiu, esta manhã, ao ponto mais tenso da manifestação dos coletes amarelos em Lisboa. A polícia foi mais forte e o povo acabou desunido.
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"Parecemos palhaços no circo." A frase surgiu do meio da multidão quando os coletes amarelos obedeceram às ordens das autoridades. Dentro de uma caixa de segurança - um cordão policial criado para tentar isolar os manifestantes -, sem possibilidade de sair (mesmo sem o colete vestido), os coletes pareciam perder força.
A desorganização era notória. De um lado gritava-se: "vamos voltar para o Marquês, sentar no chão". Do outro: "vamos descer a Avenida da Liberdade". Os protestantes deslocavam-se à medida que as ordens avançavam, mas a incógnita não deixava ninguém certo do rumo da manifestação.
A caixa de segurança foi-se fechando cada vez mais. Estavam quase mais polícias do que manifestantes. Mas, de um momento para o outro, coletes amarelos que se uniam cá fora decidiram avançar. A caixa foi "destruída", houve empurrões, gritos e momentos mais tensos.
Os coletes pareciam ter ganho a "batalha" mas durou pouco, muito pouco. Pé ante pé, a polícia construiu uma nova caixa, e rapidamente, mas desta vez no meio da rotunda do Marquês de Pombal, o que levou a um novo corte no trânsito.
A reação da polícia levou a protestos, a gritos: "não queremos violência", ouvia-se. Sentados no chão, proferiram palavras de ordem. Cantou-se o hino. Mas o que parecia uma fase não durou muito, até porque o trânsito estava cortado e a polícia tentava repor a normalidade.
Foi o momento mais violento da manhã. À força e sem aviso prévio, a polícia levantou os coletes amarelos que estavam no chão e os que reagiram acabaram por ser detidos.
A partir desse momento houve uma rutura total. A polícia criou uma nova caixa de segurança e quem conseguiu fugiu para os passeios exteriores do Marquês de Pombal. A maioria não se junta aos outros. Recusa-se. "Isto não é liberdade, não é um Estado de direito", ouve-se vindo de um manifestante que não tira o colete amarelo mas que se recusa a estar numa caixa de segurança por não estar a fazer "nada de mal".
"Tenho duas filhas, não vou para ali para não poder sair, para não saber o que me vai acontecer", diz outra senhora, desta vez de colete da mão mas ciente de que gostaria de estar a manifestar-se livremente.
Cada vez que um manifestante se junta à caixa ouvem-se aplausos. "É isso, é por Portugal". Cá fora também se grita por Portugal, mas o medo não permite avançar. "A polícia está nervosa", atira um idoso que prefere manter-se longe "antes que algo corra mal".
"O povo unido jamais será vencido." As palavras de ordem ouvem-se muitas vezes, até se canta o "Grândola, Vila Morena", mas a verdade é que estamos perante um impasse. Quem está na caixa não sai, quem está fora não entra. O povo dispersa e ainda está longe da Assembleia da República, o "destino final".