Parkinsound. Em Braga, há uma orquestra que dá voz a 22 doentes com Parkinson
Esta terça-feira, 11 de abril, é assinalado o Dia Mundial da Doença de Parkinson.
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Em Braga, há uma orquestra comunitária que tem como missão dar voz aos sentimentos e anseios de doentes com Parkinson. Chama-se Parkinsound, nasceu pela mão da neurologista do Hospital de Braga Margarida Rodrigues e do músico Pedro Santos. Recentemente, o projeto foi distinguido com o prémio de Melhor Trabalho de Investigação Clínica no Congresso Nacional de Doenças do Movimento.
A ideia é simples, mas inovadora. Foram criados dois grupos: um composto por 22 doentes, entre os 25 e os 80 anos, que integraram o Parkinsound e participaram em 15 ensaios e um concerto final no Auditório Vitta, enquanto outros 21 pacientes fizeram parte do grupo de controlo.
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Os resultados, de acordo com a especialista Margarida Rodrigues, demonstram "benefícios clínicos", em termos de uma escala que se chama de impressão clínica de melhoria, ou seja, os doentes que participaram na orquestra ficaram com a impressão que estavam melhores no fim desta participação.
Ora, usar a música como um veículo para destigmatizar o dia-a-dia de uma pessoa que vive com esta disfunção neurológica pode abrir uma porta a uma terapia com recurso à música.
"Nós fizemos várias escalas que avaliam parâmetros motores, parâmetros não motores, avaliamos as escalas da depressão e na verdade em todas elas houve uma tendência para melhoria, mas talvez porque o número da amostra é pequeno, a melhoria não teve significado estatístico, que em termos científicos é o que é relevante", explica.
Contudo, os pacientes estavam visivelmente "muito felizes e transmitiam um imenso bem-estar por ter participado nesta iniciativa". "Temos outros doentes já muito interessados em participar", realça.
Depois de uma pandemia, que obrigou ao isolamento social, a neurologista aponta o projeto Parkinsound como uma ferramenta para a inclusão social.
Percussão, vozes, eletrónica, teclas e sopros são algumas das categorias que compõem esta orquestra de pessoas sem experiência musical, mas com muitos sentimentos à flor da pele.
"Eu recordo que no início, quando o Pedro Santos pediu aos participantes que escrevessem pequenos textos sobre aquilo que a doença os fazia sentir, pouca gente participou, mas depois à medida que o projeto se foi desenvolvendo quase todos quiseram escrever pequenos textos ou poemas que depois foram utilizados nas músicas originais e no espetáculo final", revela.
A equipa do Hospital de Braga pretende alargar esta investigação a mais pacientes, de modo a comprovar possíveis melhorias, por exemplo, ao nível motor. Contudo, tal só será possível com apoios.
No último ano, a Orquestra Parkinsound foi incluída na operação "ATLAS", que resulta de uma candidatura do Município de Braga ao "Norte Cultura Para Todos", sendo cofinanciada no âmbito do Programa Operacional Norte 2020, do Portugal 2020 e do Fundo Social Europeu.
Contudo, segundo Margarida Rodrigues, a autarquia "neste momento não tem verba para permitir dar continuidade a este projeto".
Na próxima semana, a especialista irá apresentar o Parkinsound no Congresso da Sociedade Portuguesa de Neurologia e, em agosto, no Congresso Mundial de Doenças do Movimento, que terá lugar em Copenhaga, na Dinamarca.