Parlamento pede acesso prévio a "informação jurídica" para deputados deporem como arguidos
A formulação consta da versão final das regras e procedimentos para apreciação de imunidades, incompatibilidades e impedimentos da comissão de Transparência e Estatuto dos Deputados.
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A comissão parlamentar de Transparência vai pedir "prévio acesso" a "informação judiciária" com "elementos mínimos" sempre que tiver de decidir a audição de um deputado num processo judicial como arguido, segundo as regras acordadas pelos partidos.
A formulação consta da versão final das regras e procedimentos para apreciação de imunidades, incompatibilidades e impedimentos da comissão de Transparência e Estatuto dos Deputados, distribuída aos grupos parlamentares, a que a Lusa teve acesso, e que foi decidida numa reunião, esta semana, da mesa e coordenadores, realizada à porta fechada.
A proposta inicial feita por Jorge Lacão, presidente da comissão, previa a "prévia ponderação de informação judiciária sobre a existência de fortes indícios da prática de crime doloso, bem como da indicação dos respetivos tipos legais de crime e correspondentes molduras penais".
Esta formulação, porém, levantou dúvidas na reunião da semana passada, por exemplo, a João Oliveira, do PCP, por poder interpretar-se como uma forma de os deputados irem "avaliar" decisões judiciais e de investigação, no caso de pedidos de levantamento da imunidade para depor como arguido.
Na reunião seguinte, o PSD apresentou uma proposta de alteração ao ponto 5 das regras e procedimentos, foram substituídas as palavras "prévia ponderação" por "prévio acesso".
Na versão final, introduziu-se ainda a expressão "elementos mínimos", sugerida pelo PSD, sobre a informação judiciária que justifica o pedido de audição do deputado.
Esses "elementos mínimos" devem abranger a "factualidade objeto da inquirição" e "a sua temporalidade", o que quer dizer que o pedido deve esclarecer se os factos a que o processo se refere foi no âmbito das funções parlamentares, privada ou profissional, e se foi antes ou durante o exercício de mandato do deputado.
É ainda estipulado que sejam comunicados à comissão os "tipos legais de crime e respetivas molduras penais", bem como a "indicação, se for o caso, da existência de fortes indícios da prática de crime doloso".
Em declarações à TSF, o presidente da comissão de Transparência e Estatuto dos Deputados explica que este pedido de informação às autoridades judiciais visa apenas ajudar ao trabalho da comissão quando tiver de decidir se levanta ou não a imunidade.
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Não se trata de um acesso ao processo, "que decorre segundo as regras internas de sigilo", ressalva o responsável. "Se o tribunal entender que a informação prestada à AR está sob reserva e sigilo as próprias regras determinam que o acesso que hja por parte de quem tem de processar estas matérias na AR garante, igualmente, esse dever de sigilo."
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Segundo o Estatuto dos Deputados, é obrigatória a autorização do parlamento "quando houver fortes indícios de prática de crime doloso a que corresponda pena de prisão cujo limite máximo seja superior a três anos".
O levantamento de imunidade é necessário para deputados poderem intervir em processos judiciais, como testemunhas ou arguidos.
A imunidade parlamentar é a garantia dada aos deputados, durante o exercício das suas funções, e que consiste em não responder civil, criminal ou disciplinarmente pelos votos e opiniões que emitem, nem ser detidos ou presos sem autorização da Assembleia da República, salvo em determinadas exceções.