Passar a pagar pelas operações de resgate? “Infelizmente os portugueses só aprendem quando se lhes entra no bolso”
O comandante dos Bombeiros de Arcos de Valdevez, Filipe Guimarães, defende o pagamento de missões de socorro na alta montanha, em caso de negligência manifesta de quem arrisca passeios perigosos na serra. Em causa, uma operação que demorou mais de dez horas no domingo
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Há cada vez mais pessoas a arriscar caminhadas e mergulhos no Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG). No último domingo, uma equipa de nove operacionais dos Bombeiros Voluntários de Arcos de Valdevez e de Ponte da Barca demorou mais de dez horas até conseguir resgatar uma mulher com uma entorse num joelho na Serra da Gavieira. Os operacionais tiveram de caminhar por horas na montanha, em zonas de “muito difícil” acesso. O comandante dos Bombeiros de Arcos de Valdevez, Filipe Guimarães, considera que foi “o mais duro resgate dos últimos 20 anos”. E afirma que estas situações têm de ser evitadas, defendendo até que as missões de resgate passem a ser pagas, como forma de dissuasão de passeios perigosos no PNPG.
“Estas situações começam a ser cada vez mais recorrentes. São missões muito difíceis e exigentes para os operacionais, embora a gente conheça o território e estejamos preparados para circular dentro dele. Deixo aqui o meu alerta porque as situações que nós vamos tendo, normalmente é para ir buscar pessoas que não estão minimamente preparadas para circular”, disse esta manhã à TSF, o comandante Filipe Guimarães, que defende a implementação de medidas dissuasivas e punitivas em caso de negligência manifesta dos envolvidos.
“Faz todo o sentido. Infelizmente, à boa maneira portuguesa, os portugueses só aprendem quando se lhes entra no bolso”, afirma, referindo que, dado que as missões de resgate no Parque Nacional da Peneda-Gerês, envolvem “grande quantidade de meios de socorro e operacionais”, “fazia todo o sentido que fossem pagas”. “Não faz sentido nenhum termos helicópteros, termos pessoas, ambulâncias e viaturas todo-o-terreno, empenhadas nestas situações a prestar socorro a quem não tem o mínimo de responsabilidade e nem sequer teve a mínima preocupação em avaliar aquilo onde se ia meter”, sublinhou.
O comandante dos Bombeiros de Arcos de Valdevez afirma que a maioria dos resgates realizados tem envolvido “curiosos” que arriscam caminhadas e mergulhos atraídos pela rara beleza do PNPG, mas onde o perigo está constantemente à espreita.
No domingo, os Bombeiros de Arcos de Valdevez e Ponte da Barca, foram socorrer uma mulher com uma entorse num joelho. O caso envolveu um grupo de dez pessoas, a maioria emigrantes, entre os quais dois idosos e jovens de 8, 12 e 16 anos de idade, que foi passear para alta montanha, na freguesia de Gavieria. A operação de salvamento, concretizada entre domingo às 19.10 horas e segunda-feira à 5.00 horas, foi concluída com sucesso, graças a um conjunto de factores, como existência de rede de telemóvel no local e “espírito de missão” de nove operacionais, entre os quais um enfermeiro. Os operacionais caminharam “cerca de 4.30 horas”, por “carreiros do gado, a saltar penedos e, por meio de socalcos e giestas” até ao local e outras tantas no regresso, com a vítima imobilizada numa maca. A esquipa foi seguida a partir da “sala de operações” em Viana do Castelo, através de imagem em tempo real do Google Earth, e guiada no caminho, através do sistema de comunicações SIRESP.
De acordo com Filipe Guimarães, o socorro por via terrestre constitui a única forma de concretizar a missão, já que, por questões de segurança, a Força Aérea, sediada em Ovar, apenas efetua resgate noturno com helicóptero no mar. “Em zona de montanha não fazem devido aos obstáculos que podem surgir. O helicóptero não tem grande iluminação e ali também não havia local com condições e visibilidade para que pudessem fazer uma aterragem em segurança”, justificou.
