O musicólogo Mário Correia lançou um livro sobre o tema.
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Vem de longe esta tradição, circunscrita, entre nós, ao planalto mirandês, no nordeste transmontano, entre os rios Sabor e Douro. Há, no entanto, incursões destas danças pela Cantábria, Astúrias, pelos Pirenéus e Meseta Norte e Sul.
Nos últimos tempos, o impacto destas danças, no país e no estrangeiro, impulsionou à investigação o musicólogo Mário Correia, um economista portuense, dedicado, há duas décadas, ao governo dos Sons da Terra, uma organização local, implantada em Sendim, no concelho de Miranda do Douro. A investigação foi consignada em livro, "A dança dos Pauliteiros", apoiado pelo Inatel e pela Câmara Municipal de Miranda do Douro.
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Segundo o autor, estas danças têm algumas teses de difícil defesa, como é o caso da tradição guerreira, defendida por Pirro, estratega militar da Macedónia, que viveu no séc. III A.c, bem como a tradição celta, proposta pelo historiador e geógrafo grego, Estrabão, do séc. I A.c. Há ainda quem avance com a hipótese de estas danças surgirem apenas no séc. XIII, em contexto religioso, designadamente para abrilhantarem as procissões do Corpo de Deus, cuja festa se celebra amanhã, dia 11, em todo o mundo católico.
Retiradas as teses das danças guerreiras, Mário Correia defende que estas danças são rituais de fertilidade e virilidade que estão mais próximos dos louvores à mãe-terra, onde o pau pode surgir como elemento fálico poderoso, lançado, na dança, da mão direita para a mão esquerda. Também as vestimentas, inicialmente brancas, aproximam a viabilidade desta tese.
Ainda na opinião de Mário Correia sobressaem na instrumentaria musical os gaiteiros, com o seu trio tradicional da caixa de guerra, o bombo e a gaita de foles.
A organização destas danças só aceita a participação de rapazes solteiros. A sua escolha era feita entre os mancebos que ficavam livres do serviço militar, quando este era obrigatório.
De acordo com autor deste livro, a investigação foi feita com o objectivo de "arrumar a casa" com informação dispersa desde o séc. XIX.
As danças dos "laços" ou "palos" (são designações locais) impõem a quem penetra nos seus segredos "destreza e sentido rítmico", para que os "palos" possam surgir "num bater em uníssono" e, assim, provocar orgulho em quem actue ou, de fora dos palcos, escute as melodias e os movimentos dançantes.