Comunistas e ecologistas sublinham convergências e prometem manter-se juntos no futuro. Há também uma convergência ao cuidado do Governo: não passam cheques em branco sobre o Orçamento do Estado.
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Convergência. É este o termo que sai da reunião entre o Partido Comunista Português (PCP) e Partido Ecologista "Os Verdes" (PEV), seja na relação futura entre estas duas forças partidárias, seja na visão que têm da legislatura que agora começa.
E essa convergência começa logo pelo facto de ambos não passarem cheques em branco a uma eventual viabilização do Orçamento do Estado para o próximo ano com carimbo socialista.
Do lado do PCP, o secretário-geral Jerónimo de Sousa nota que ainda não teve mais reuniões com o PS, até porque esta semana foi dedicada aos assuntos internos do PCP com as questões relativas à nova composição da Assembleia da República. No entanto, quando se aproximar a discussão do Orçamento, aí a conversa muda de figura.
"Aí [nessa altura], poderá haver uma apreciação relativamente ao documento do governo, num quadro em que simultaneamente avançaremos com algumas das nossas iniciativas que consideramos prioritárias", destaca o líder comunista que rejeita que nessa altura venha a fazer-se um "exame comum".
Aquilo que o PCP vai fazer é mostrar "disponibilidade para olhar para o conteúdo" e conhecer "as grandes linhas orçamentais" para perceber se vão ao encontro das necessidades da sociedade portuguesa, que, para Jerónimo, além dos direitos dos trabalhadores versam também sobre setores como o da saúde.
Do lado do PEV, a ainda líder parlamentar Heloísa Apolónia que esta sexta-feira se despede do parlamento, nota que "ainda é muito cedo" para falar em Orçamento do Estado, mas também fica a disponibilidade: "Estamos dispostos a dialogar e conversar, mas é perante a proposta concreta que teremos de nos pronunciar".
Ainda assim, a dirigente dos Verdes lança a nova legislatura com a certeza de que quando as propostas não forem ao encontro das do partido, os deputados eleitos não vão ter problemas em manifestar o desagrado.
"Votaremos a favor de todas aquelas [propostas] que forem benéficas para a melhoria da qualidade de vida das pessoas e para a sustentabilidade do desenvolvimento e a valorização do nosso património natural. Contarão, contudo, com o voto contra dos Verdes em tudo aquilo que for em sentido contrário e que, na nossa perspetiva, seja negativo para o país", sublinha Heloísa Apolónia deixando o recado a todas as forças partidárias.
Um futuro a dois
Com uma reunião marcada para a análise dos resultados da coligação CDU, a conclusão não traz surpresas: a parceria mantém-se viva para o futuro.
"Confirma-se o empenho no sentido da convergência e da iniciativa, particularmente, no plano parlamentar. Convergência também em relação ao futuro da batalha eleitoral das eleições autárquicas, a valorização da campanha da CDU neste quadro muito exigente que foram as eleições legislativas e a confirmação de que, com a força que o povo nos deu, na AR, apresentaremos aqueles que foram e são compromissos que temos com o povo e com o nosso país", nota Jerónimo de Sousa à saída do encontro na sede dos Verdes.
E do lado do PCP, o compromisso vai em primeira instância para uma "prioridade" que "tem de ser concretizada: "a ideia de que todas as crianças até aos 3 anos deveriam ter uma creche gratuita". Jerónimo de Sousa destaca ainda o "aumento geral dos salários e do salário mínimo nacional" como outra das bandeiras já para o início da legislatura.
Do lado dos Verdes, Heloísa Apolónia que não vai estar no hemiciclo nos próximos quatro anos, reitera que o partido vai lutar para que não existam "recuos" e destaca que as polícias vão estar relacionadas com "a mitigação das alterações climáticas", com a questão dos transportes e mobilidade como "absolutamente central". Iniciativas relacionadas com a ferrovia, são desde já uma promessa do partido que vai ainda levantar a bandeira do "combate às assimetrias regionais e a procura da coesão no país".