Pedidos de bolsa no ensino superior batem recorde. Demoras estão a dificultar a vida dos estudantes
Mais de 108 mil alunos do ensino superior pediram bolsas de estudo em 2024, mais mil do que no ano passado. A presidente da Federação Académica de Lisboa alerta que o número pode continuar a crescer
Corpo do artigo
É um recorde na última década. Mais de 108 mil alunos do ensino superior pediram bolsas de estudo em 2024. São quase mais mil do que no ano passado e mais quatro mil do que em 2022, de acordo com dados da tutela. E o número pode continuar a crescer, avisa a presidente da Federação Académica de Lisboa, que deixa alguns alertas.
Em declarações à TSF, Mariana Barbosa afirma que "os estudantes podem pedir a bolsa até ao final do ano e há um mês já havia instituições de ensino superior a bater recordes, ou muito próximas disso".
Por um lado, o aumento dos pedidos de bolsa pelos universitários é visto como positivo, porque o universo de estudantes elegíveis foi alargado, com o aumento do limite do rendimento das famílias do aluno de nove mil para 12 mil euros.
No entanto, Mariana Barbosa alerta para outra realidade: "Existe um maior número de famílias que, com o aumento dos custos com a habitação, refeições, e outros custos associados às deslocações dos estudantes, têm sentido cada vez mais necessidade de pedir bolsas. É preocupante, enquanto as bolsas não conseguirem fazer face aos reais custos da frequência [do ensino superior] vamos ter mais estudantes a pedirem bolsas."
O mínimo da bolsa de estudos é 79 euros por mês, o valor da propina mensal. Já "o valor de referência, de 159 euros por mês, não chega para pagar a propina e uma semana e meia de refeições na cantina", sublinha.
Mariana Barbosa reconhece que, este ano, "houve uma grande inovação, que é o facto de o complemento ao alojamento ter um valor bastante substancial". No caso de Lisboa, é de cerca de 480 euros por mês. Em qualquer cidade, os alunos não bolseiros podem receber até metade dos valores-limite.
A dirigente associativa afirma, por um lado, que o valor não chega para as despesas, por outro lado, contribui para o aumento dos pedidos de bolsa, porque as candidaturas são feitas pela mesma via: "Os estudantes têm de dizer no requerimento que se não forem bolseiros querem receber os 50 por cento do complemento para o alojamento."
Outro alerta da presidente da Federação Académica de Lisboa é o volume de processos estar a causar demoras nas respostas dos Serviços de Ação Social, até porque o número de técnicos que trata dos casos não terá aumentado.
"Infelizmente, tem havido atrasos para os estudantes que não têm atribuição automática de bolsa de estudos. Isto afeta as escolhas dos estudantes, especialmente no complemento ao alojamento. O facto de um estudante não saber se vai ter 250 euros de apoio para arrendar um quarto faz muita diferença na escolha do quarto, no conforto e na decisão se consegue frequentar o ensino superior. Infelizmente, há estudantes que ainda não conseguiram obter respostas e as famílias ficam obviamente sobrecarregadas em termos de custos", salienta.
Segundo dados da Direção-Geral do Ensino Superior, são rejeitados cerca de um em cada dez pedidos de bolsa de estudo. A presidente da Federação Académica de Lisboa lembra que o apoio também depende da dotação orçamental de cada instituição, atribuída pelo Governo.