"Pedir perdão sem confrontar diretamente as vítimas é fácil." Encontro com igreja é "importante"
Teresa Toldi sublinha, na TSF, que não são os relatos das vítimas sobre os abusos "que são contra a igreja", mas antes "o facto de ter havido membros da igreja que tiveram essas práticas, que são inaceitáveis".
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A teóloga Teresa Toldi defendeu esta sexta-feira que o encontro da Conferência Episcopal Portuguesa com a associação que representa as vítimas de abuso sexual por parte da Igreja Católica é "um momento importante" porque "pedir perdão sem se confrontar diretamente com as vítimas é fácil".
"Este é um momento importante porque, pedir perdão no vago, isto é, pedir perdão sem se confrontar diretamente com as vítimas, é fácil. Eu sei que institucionalmente a igreja pode considerar que não é fácil estar numa posição de ter de pedir perdão, mas o pedir perdão a pessoas concretas, que foram as pessoas que foram vítimas, é extremamente importante", considera, em declarações à TSF.
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A teóloga explica ainda que este encontro "será importante para as vítimas, porque são reconhecidas, porque o seu sofrimento é reconhecido não no vazio, não numa generalização sem nome, mas no encontro cara a cara, e que isso é um sinal", desafinado todos os bispos a seguirem este caminho.
"O que era bom, era que fossem todos os bispos a fazerem isso", defende, acrescentado que o pior que podia acontecer era que se verificasse "a nível nacional aquilo que aconteceu numa diocese ou outra, em que a atitude de alguns bispos foi muito defensiva".
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"Por exemplo, na diocese de Lisboa, chegou-se a interpretar o próprio relatório - não estou a dizer que foi D. Manuel Clemente que o fez -, mas pessoas de relevância na diocese da Igreja Católica em Lisboa, que chegaram a colocar a questão como se a igreja é que estivesse a sofrer, porque isto quase que é uma coisa contra a igreja. É de facto uma coisa contra a igreja, mas o que é contra a igreja é o que foi feito a essas pessoas, não é o facto de existirem os relatos das vítimas. É o facto de ter havido membros da igreja que tiveram essas práticas, que são inaceitáveis", sublinha.
Teresa Toldi questiona igualmente se todos os bispos terão tido a coragem para ler o relatório que dava conta dos abusos sexuais com depoimentos das vítimas, lamentando que haja uma "certa tendência para considerar que isso já não é uma coisa que se fale tanto".
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"Será que os bispos leram o relatório? Será que os bispos todos leram o relatório completo? E que impacto psicológico é que teve nos bispos a leitura de relatos que vêm no relatório, que são absolutamente abomináveis. Terão lido tudo? Essa é uma pergunta que eu me faço muitas vezes porque às vezes há uma certa, eu não digo leveza, mas uma certa tendência para considerar que eventualmente isso já não é uma coisa que se fale tanto agora e eu às vezes pergunto-me: 'Será que leram?'", questiona.
A Conferência Episcopal Portuguesa vai receber no dia 14 de janeiro, em Fátima, a associação Coração Silenciado, em representação das vítimas de abuso sexual por parte da Igreja Católica.
O bispo de Leiria-Fátima, José Ornelas, que foi reconduzido na presidência da conferência para o triénio 2023-2026, vai receber alguns membros da direção da associação, que quer auscultar "o real sentir da CEP em relação ao assunto".