A posição de um pai quando sabe que um filho errou. É assim que o bispo auxiliar de Lisboa vê a postura da Igreja perante as denúncias, mas admite que o patriarcado vai implementar um sistema de triagem para as acusações.
Corpo do artigo
"Nada disto é fácil", começou por dizer Américo Aguiar, em entrevista ao jornal Público. O bispo auxiliar de Lisboa comparou a posição da Igreja com a que um pai tem com o seu filho que falha. "Quando um filho chega a casa e diz ao pai que cometeu um crime, que roubou, matou ou violou, o pai não pega imediatamente no filho pela orelha e vai à esquadra. O pai vive momentos de grande sofrimento, [debatendo-se] entre o carinho e a proteção pelo seu filho e aquilo que é a sua responsabilidade como cidadão mediante aquilo que foi feito", explicou o sacerdote.
Américo Aguiar afiançou que, apesar de haver um intervalo de "tempo para se encontrar a solução" para, primeiramente, "ajudar a corrigir, a consertar, e depois, ir perante as autoridades", "no topo das nossas preocupações está a vítima". Por isso, a Igreja está a pensar na melhor forma para triar as acusações que lhe são dirigidas. "O senhor patriarca, desde o seu encontro com o Papa, tem estado a trabalhar para encontrar uma forma, seja uma plataforma ou um serviço, de receber as denúncias e submetê-las a uma triagem", avançou.
"O senhor cardeal vai dar novidades em breve", disse ainda o bispo auxiliar de Lisboa, que acredita que não pode haver abusos de poder no seio da Igreja Católica. "O Papa dizia que havia um problema grave que é o de alguém julgar que, no seu contexto [dentro da Igreja], há folga para asneira. Nós, os sacerdotes e o clero em geral, não devemos cair na tentação de nos acharmos acima da lei", refletiu o bispo auxiliar de Lisboa.
O clérigo assumiu que, se há casos de pedofilia e outros crimes cometidos por representantes da Igreja, "significa que, à sua volta, o seu contexto lhes permite que isso aconteça". No entanto, Américo Aguiar sublinhou que continua a acreditar nas boas práticas do catolicismo. "Temos de partir do princípio de que as pessoas são sérias e que estão a fazer o melhor que podem e sabem", afirmou o sacerdote.