Pedro Nuno e Carneiro no mesmo palco (o tom, os apoios e a plateia)
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O partido é o mesmo, mas os dois principais candidatos à liderança do PS mostram posturas diferentes (seja no tom ou até na cor que pinta a campanha). Três dias separaram o encontro com militantes de Pedro Nuno Santos e de José Luís Carneiro em Torres Vedras, mais concretamente, em A-dos-Cunhados. A família socialista foi, de facto, quase a mesma.
Há quem tenha feito as contas, somando vários rostos repetidos, e assumindo até que "dois terços da sala" estiveram nas duas sessões: pode mostrar indecisão, mas também que o partido vai mobilizar-se em torno do candidato vencedor.
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A TSF conferiu a casa cheia, tanto com Pedro Nuno Santos como com José Luís Carneiro. Cerca de 200 lugares completamente lotados, e na iniciativa do antigo ministro muitos tiveram de ficar de pé. Carneiro contou ainda com a presença do antigo ministro Capoulas Santos ou do deputado Paulo Pisco. Ao lado de Pedro Nuno esteve o filho de António Costa, Pedro Costa, ou a antiga ministra Ana Jorge.
Nuno Cosme, o anfitrião presidente da União de Freguesias de A dos Cunhados e Maceira, eleito pelo PS, foi ouvir os candidatos antes de decidir o voto e à TSF traça as diferenças entre os dois perfis.
"O Carneiro é um estadista, mas o Pedro Nuno é mais guerreiro. E nestes quatro meses vamos precisar de alguém para uma batalha mais intensa e depois para continuar a governar o país. Daquilo que ouvi, o Carneiro também é uma pessoa mais sensata e mais moderada", nota.
Também Ana Cristina Umbelino, militante de Torres Vedras, ouviu os dois candidatos, admite que "são diferentes", e apela ao partido que faça uma reflexão para "um secretário-geral forte que consiga chegar a primeiro-ministro".
Antigo futebolista vota em Pedro Nuno
Em Torres Vedras, Pedro Nuno Santos ganhou até o apoio de um antigo jogador de futebol. Nelson Pereira foi guarda-redes do Sporting, hoje é autarca pelo PS e quer que o partido aposte num candidato mobilizador.
"Precisamos mesmo que o PS continue forte, há muitos problemas por resolver. Sou militante há pouco tempo, até porque a minha vida profissional não permitia, mas quero ajudar a dar voz às pessoas que, tal como eu, querem um país melhor. Quando apoio alguém estou a passar-lhe uma responsabilidade", afiança.
A responsabilidade, neste caso, vai para Pedro Nuno Santos. Ao contrário da presidente da câmara de Torres Vedras, Laura Rodrigues. Ouviu os dois candidatos, mas há muito que decidiu colocar a cruzinha em José Luís Carneiro.
"A primeira coisa que me fez apoiar esta candidatura de José Luís Carneiro foi não estar colado a qualquer situação que tenha ocorrido nos últimos tempos do nosso Governo, que foram chamados de casos e casinhos", explica
Pedro Nuno Santos esteve envolvido, por duas vezes, em "casos e casinhos", o que levou à sua saída do Governo. Primeiro, pela polémica decisão para a localização do aeroporto. Depois, quando veio a público a indemnização de meio milhão de euros a Alexandra Reis.
O tom de Pedro Nuno e o currículo de Carneiro
Também no púlpito há, naturalmente, diferenças entre os candidatos. Pedro Nuno Santos levanta o tom, numa característica que lhe é conhecida. Já José Luís Caneiro é mais contido.
O ainda ministro da Administração Interna sente a necessidade de apresentar o currículo político, desde os tempos como autarca, quando "se comprometeu com a reforma educativa". Ou até como ministro, lembrando "os assuntos complexos que tinha para resolver" no Governo de maioria absoluta.
"Sempre honrei a minha palavra", garante.
José Luís Carneiro é mais desconhecido para os portugueses, ao contrário de Pedro Nuno Santos, que está na linha da frente desde a geringonça. E levanta facilmente a plateia com o discurso que lhe é característico.
"Os homens que se fazem ao mar, mesmo quando está agitado e picado, correndo risco de vida para que possamos comer o peixe ao almoço e ao jantar, esses homens não têm mérito? Os operários que fazem as coisas que usamos não têm mérito?", questiona.
As cores da campanha (verde e azul)
E também a cor que pinta a campanha dos dois candidatos é diferente. Pedro Nuno Santos, aposta no verde. Curiosamente, a cor da campanha da maioria absoluta, tanto a de António Costa, em 2022, como a de José Sócrates, em 2005.
Já José Luís Carneiro opta pelo azul, com as palavras "Por Todos. Para Todos".
Cores à parte, José Luís Carneiro é adepto da moderação, sendo conhecido como da ala moderada do partido, apelando a um PS "que esteja onde sempre esteve, no espaço da esquerda democrática".
Pedro Nuno Santos não é tão extensivo, já rejeitou rótulos, mas deixa o aviso a quem lhe chama radical: "Tudo o que vos disse não é radicalismo, tudo o que vos disse é ser socialista".
Em Torres Vedras, os dados estão lançados, resta esperar pelos votos nas urnas e pelos resultados da votação a 16 de dezembro. José Luís Carneiro e Pedro Nuno Santos têm ainda Daniel Adrião como adversário na corrida à sucessão de António Costa.
