A proposta da direção foi aprovada por larga maioria e inclui elogios ao mandato de Marcelo Rebelo de Sousa e um destaque mais conciso à candidatura de Ana Gomes. Pedro Nuno Santos criticou e foi criticado.
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Uma decisão pré anunciada, uma marcação de terreno e opiniões e apoios cruzados a candidatos presidenciais. Durante a reunião em formato virtual da Comissão Nacional do PS, ouviram-se críticas ao atraso no debate sobre a posição a adotar pelo partido nas presidenciais, mas António Costa considerou que a decisão chegou "no momento próprio".
"Se o PS tem o entendimento, como sempre teve, que não cabe aos partidos apresentarem candidatos, mas pronunciar-se sobre as candidaturas que emergem na sociedade, teria então sido estranho se o partido não tivesse dado tempo para quem surgisse como candidato, de forma a que pudéssemos avaliar o quadro de candidaturas em presença", disse, no final da reunião, o secretário geral do PS.
Era a resposta ao que se ouviu dentro da reunião onde, de acordo com relatos confirmados pela TSF, Pedro Nuno Santos anunciou o apoio a Ana Gomes e criticou a gestão do processo das eleições presidenciais feita pela direção.
Outra voz crítica da proposta da direção foi Daniel Adrião que viu rejeitada pelo presidente do PS Carlos César, a deliberação que pretendia a realização de eleições primárias para a escolha do candidato a apoiar nas eleições presidenciais. Daniel Adrião citou mesmo declarações de 2014 quando Costa defendeu que "não há de ser por razões estatutárias que não é devolvida a voz aos militantes e simpatizantes." Mas César invocou os estatutos para chumbar a proposta.
Mas se Pedro Nuno Santos aproveitou esta reunião para explicitar as críticas que foi deixando na comunicação social, também foi alvo de reparos. Fontes presentes da reunião confirmaram que Pedro Nuno Santos foi criticado por ter faltado às reuniões dos órgãos do PS onde, entre ontem e hoje, o tema foi debatido.
Numa referência lida como uma crítica a Pedro Nuno Santos, a líder parlamentar socialista Ana Catarina Mendes defendeu que as opiniões devem ser discutidas "frontalmente nos órgãos do partido" e que as opiniões diferentes não dão o direito de alguém se assumir "moralmente superior".
Ana Catarina Mendes apelou sobretudo à união lembrando que o PS "nunca capturou nenhuma candidatura" e que as presidenciais nunca serviram para "nos fraturarmos".
Mas se a líder da bancada do PS não se comprometeu ainda sobre o voto nas presidenciais, outros deram esse passo.
Durante a reunião ouviram-se várias vozes a declarar apoio a Marcelo Rebelo de Sousa. Foi o caso de Fernando Medina que elogiou o mandato do atual Presidente e ainda dos elogios de Augusto Santos Silva e Vieira da Silva e Paulo Pisco, coordenador do PS na comissão de Negócios Estrangeiros e deputado eleito pelo círculo da Europa que elogiou a relação que o Presidente mantém com as comunidades portuguesas. Paulo Pisco recordou que "muitos socialistas se revêm no exercício do seu mandato" e que "nele vêm um garante da estabilidade política, um defensor dos valores da República".
Entre os apoiantes de Ana Gomes, além de Pedro Nuno Santos, estiveram Duarte Cordeiro e João Paulo Correia. O vice-presidente do grupo parlamentar do PS afirmou que não vai apoiar Marcelo Rebelo de Sousa e que "a candidatura de Ana Gomes tem mais virtudes que a própria candidata".O deputado considerou ainda que a "campanha das presidenciais será marcada pelas posições que os partidos estão a assumir neste Orçamento" e vai "cruzar o período mais crítico da crise".
A proposta da direção foi aprovada por larga maioria com "apenas duas abstenções e cinco votos contra", como detalhou António Costa, e inclui elogios ao mandato de Marcelo Rebelo de Sousa e um destaque mais conciso à candidatura de Ana Gomes.
Os elogios para Marcelo ocupam várias linhas: "o PS faz uma avaliação positiva do atual mandato de Marcelo Rebelo de Sousa. Valoriza o entendimento que tem praticado da função presidencial, a proximidade com os portugueses, a solidariedade institucional com os demais órgãos de soberania, a ação na Europa e no mundo em prol dos interesses de Portugal", está escrito na moção da direção socialista, onde se sublinha ainda "a correta cooperação institucional entre o Presidente da República e o Governo".
Já para Ana Gomes, uma referência mais breve: a Comissão Nacional do PS considera que deve ser destacada, "naturalmente, a candidatura de Ana Gomes, distinta militante socialista".