Juiz de instrução criminal começou a ouvir em Leiria os 13 arguidos no processo do grande incêndio de 2017, em que morreram 66 pessoas.
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O exercício do comando no teatro de operações não é um jogo de Playstation. Palavras de Mário Cerol, segundo comandante de operações de socorro no distrito de Leiria, o primeiro arguido a ser ouvido na fase de instrução do processo-crime relacionado com o grande incêndio que eclodiu no concelho de Pedrógão Grande em 17 de junho de 2017.
Durante a manhã, o juiz de instrução criminal, Gil Vicente, que vai decidir pelo arquivamento ou julgamento dos arguidos contra quem o Ministério Público deduziu acusação, ouviu, no Tribunal de Leiria, também o comandante dos Bombeiros Voluntários de Pedrógão Grande, Augusto Arnaut.
Ambos estão acusados pelo Miniistério Público de 63 crimes de homicídio por negligência e 44 crimes de ofensa à integridade física por negligência, 14 dos quais graves.
Augusto Arnaut foi o primeiro comandante no teatro de operações, no dia 17 de junho, posição que Mário Cerol ocupou ao final da tarde e até às 22 horas.
A estes dois arguidos são apontadas falhas na coordenação da resposta no combate ao incêndio, nos procedimentos adotados e na mobilização de meios.
Ao juiz de instrução, Mário Cerol disse que desde meio da tarde solicitou ao comando nacional em Lisboa o reforço de meios, que só chegaram muito mais tarde, já noite, depois das 22 horas. Falou também das falhas de comunicações que justificaram a deslocalização do posto de comando de Escalos Fundeiros para os estaleiros municipais em Pedrógão Grande. Por volta das 20 horas, explicou, também as comunicações do SIRESP deixaram de funcionar.
Sobre os fenómenos meteorológicos no terreno, Mário Cerol garante que não existia informação disponível, enquanto os dados de vento, temperatura e humidade só chegaram do IPMA já as chamas lavravam com intensidade. Alegou ainda que foram descobertas na floresta comunidades que ninguém sabia existirem e frisou que nenhum sistema de aviso à população estava preparado pelo Estado.
Augusto Arnaut foi sobretudo questionado pelo não corte da Estrada Nacional 236-1, onde morreram várias das vítimas do incêndio, encurraladas nos carros. E alegou que em nenhum momento teve a perceção de que o fogo se dirigia para aquela zona e colocava em perigo quem circulava na N 236-1.
O comandante dos Bombeiros Voluntários de Pedrógão Grande lamentou não ter tido o apoio de meios aéreos durante o período mais crítico, entre as 18 e as 20 horas de 17 de Junho.
Durante o depoimento, Augusto Arnaut, para quem a prioridade nas primeiras horas era defender o centro urbano de Pedrógão Grande, queixou-se do atraso na chegada dos reforços que solicitou várias vezes e apontou falhas nas comunicações usadas pelos bombeiros, além de assumir que não tinha informação formal sobre as mudanças na orientação do vento, que influenciaram a progressão das chamas.
Para hoje estão marcadas no total 7 inquirições. No total, o processo tem 13 arguidos, incluindo os presidentes em exercício, à época, nas câmaras municipais de Pedrógão Grande, Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos.