
Rui Coutinho/Global Imagens
Camisa de manga comprida e escura, calças de ganga e muita água à mão. São algumas técnicas que os trabalhadores alentejanos usam para "fintar" o calor intenso em dias com mais de 40 graus. Mas há mais. O horário de entrada ao serviço na Junta de Barbacena e Vila Fernando foi antecipado das 9 para as 6 da manhã. Os trabalhadores ficam com a tarde livre para fugir ao sol tórrido.
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A fonte em pleno jardim de Vila Fernando é ponto de encontro entre a população, mas por estes dias nem ela consegue acalmar a chegada do intenso calor ao Alentejo.
É hora de flexibilizar horários de trabalho e o presidente da Junta dá o exemplo. Na freguesia de Barbacena e Vila Fernando, no concelho de Elvas, Jorge Madeira salta da cama pelas 5.30 da manhã para distribuir serviço aos funcionários que pegam às 6h para largarem às 12h30. Garante o autarca que a produção é maior.
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Quem passa a vida a trabalhar no campo dá a receita para minimizar o calor em dias em que o mercúrio vai além dos 40 graus. Bruno Mourinho, trabalhador agrícola, fala de roupa larga e escura, mas com muita água à mão.
Já no Centro de Dia de Vila Fernando as notícias sobre as elevadas temperaturas merecem um olhar atento das auxiliares. Ter mais de 40 graus registados nos termómetros não é novidade por estas paragens, mas Madalena Hortas não quer facilitar e coloca uma garrafa de água à frente de cada idoso.
Pela aldeia não se vê janelas ou portas abertas. Nem simples frestas. Uma antiga técnica alentejana para deixar o calor na rua, segundo explica Armando Lopes.
E no que toca aos animais? Como se mata a sede a m bovino por estes dias? O vaqueiro Leonardo Galhardo, que antes das 6h00 já está entre as mais de 300 cabeças de gado, admite que o trabalho é mais exigente. O calor leva uma vaca a beber entre 50 a 60 litros de água por dia.
Entretanto, as altas temperaturas que chegaram ao Alentejo, quase da noite para o dia, já provocaram prejuízos ao agricultor João Sengo. O calor repentino deixou o furo da exploração onde trabalha à míngua de água, enquanto no café da terra Ludgero Pisco testemunha o maior consumo de bebidas por estes dias. É por ali que a população se junta ao fim da tarde, em pleno jardim, com uma esplanada a convidar. E não falta o petisco.
Nem os alentejanos estavam preparados para tanto calor
A população está habituada a temperaturas altas, mas a partir desta quinta-feira podem atingir-se valores recorde. Por isso, os hospitais e centros de saúde estão em alerta máximo, preparados com planos de contingência.
A delegada de saúde do Alentejo, Filomena Araújo, explica que, em caso de necessidade, as unidades de saúde podem adotar medidas extraordinárias. "Alargar o horário, aumentar o número de consultas de proximidade para evitar que as pessoas se afastem tanto, reforço de pessoal... é de acordo com aquilo que pudermos".
Filomena Araújo reconhece que esta vaga de calor tem levantado mais preocupações que nos últimos anos. "Tivemos um verão atípico até agora, com temperaturas amenas. Se as temperaturas tivessem começado a subir há dois meses, como era normal, neste momento já tínhamos uma maior adaptação fisiológica ao calor".
A delegada de saúde do Alentejo aconselha, por isso, medidas de proteção face ao calor extremo, como começar a trabalhar mais cedo, usar roupas largas e chapéu ou beber muita água.