Investigadores concluem que peixes podem alterar forma como comem, acasalam ou se defendem contra predadores
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Um estudo que envolveu cientistas portugueses e chineses revelou que alterações na qualidade da água têm um impacto direto no comportamento dos peixes, afetando o seu crescimento e bem-estar. O estudo, onde participou João Saraiva, líder do Fish Etho Goup, sublinha a importância de assegurar parâmetros adequados para garantir uma produção eficiente e sustentável.
A existência na água dos tanques de aquacultura de mais ou menos oxigénio, dióxido de carbono ou amónia são variáveis a ter em conta e que têm efeitos ”muito mais profundos” do que os investigadores pensavam. “O dióxido de carbono tem impactos na perceção que os peixes têm do ambiente que os rodeia”, explica João Saraiva. Quando o dióxido de carbono aumenta nos tanques, os peixes deixam de cheirar, impactando a forma como procuram comida, ou encontram parceiros, revela o investigador do Fish EthoGroup.
“Estas variáveis afetam não só a fisiologia, o metabolismo e os órgãos dos peixes, mas também interferem na sua perceção sensorial, condicionando comportamentos fundamentais, como a natação, a formação de cardume, a alimentação, a defesa contra predadores, a agressividade e o acasalamento, bem como os comportamentos adaptativos e relacionados com o stress, como a exploração, a resposta de fuga e a ansiedade”, considera o cientista.
O estudo, realizado em colaboração com duas universidades chinesas, avalia também o impacto no comportamento e crescimento de várias espécies piscícolas de novos poluentes, como os microplásticos, que se encontram na água. ”Os peixes que são sujeitos a microplásticos têm problemas cognitivos”, salienta. O cientista adianta que pode parecer estranho, mas a verdade é que tem relação com o seu comportamento no ambiente. “Se eles não comem da mesma forma, isso está a influenciar o crescimento deles e do ponto de vista comercial tem já algumas consequências”, diz.
João Saraiva alerta para o facto de existirem mecanismos para avaliar vários parâmetros da água, como o oxigénio e a amónia, mas não é tão fácil detetar a existência de microplásticos.
A Fish Ethogroup é uma associação sem fins lucrativos que estuda o comportamento dos peixes e trabalha no Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve (CCMAR).
Os investigadores esperam que este estudo seja um contributo para as empresas produtoras de peixe em aquacultura. Numa nota enviada à TSF, os investigadores destacam que “os resultados deste estudo destacam a necessidade de implementar práticas que assegurem boas condições ambientais para os peixes, não só com vista à sua saúde e bem-estar, mas também para maximizar a eficiência da aquacultura”.