"Penso rápido" ou "acesso direto para dúvidas"? Pré-triagem telefónica de grávidas "pode funcionar", mas atrasos "seriam danosos"
O Fórum TSF desta segunda-feira ouviu vários especialistas sobre o novo modelo de acesso das grávidas às urgências, que agora arranca, e o tema não é consensual
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O número de enfermeiros especialistas é "confortável" para dar resposta aos telefonemas para o SNS24 que as grávidas terão de fazer antes de se dirigirem às urgências, afirma o bastonário. Mas há quem tenha uma opinião diferente, como é o caso da presidente do Observatório de Violência Obstétrica: a medida é uma tentativa de esconder a falta de médicos e, por isso, o trabalho da ministra da Saúde "é absolutamente deplorável", considera no Fórum TSF.
Há problemas em todos os serviços de urgência, não apenas nos de obstetrícia e de ginecologia. O aviso é, por seu lado, feito pelo presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, Xavier Barreto, no dia em que entra em vigor um novo modelo de pré-triagem telefónica para as grávidas.
Xavier Barreto confia que o projeto-piloto — que abrange a região de Lisboa e Vale do Tejo e o Hospital Distrital de Leiria — "pode funcionar", mas pede "expetativas realistas".
Recorrendo a dados estatísticos — por exemplo, a ida às urgências entre os portugueses é quase o dobro da média nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico —, aquele responsável assume que o problema "não se resolve de um dia para o outro, é uma mudança cultural que demorará muito tempo e implica a criação de novas respostas nos cuidados de saúde primários".
A pré-triagem telefónica para as grávidas deverá ser feita preferencialmente por enfermeiros especialistas em saúde materna e obstétrica. E Xavier Barreto alerta: "Vamos ter de garantir que não temos atrasos no atendimento telefónico. Seria muito danoso para a implementação do processo."
Já o bastonário da Ordem dos Enfermeiros considera que o novo modelo é positivo e garante uma gestão mais eficaz dos recursos humanos. Luís Filipe Barreira assegura que há enfermeiros suficientes para garantir que nada falha: "Neste momento, temos 3500 enfermeiros especialistas no país, portanto, é um número bastante confortável."
Por sua vez, para a Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal, esta é uma solução adequada. O presidente, Nuno Clode, deixa às grávidas uma mensagem de tranquilidade, pedindo-lhes que "confiem".
"As grávidas, por norma, são ansiosas e preocupam-se com os seus bebés. Quem gere tem de perceber que é assim e não pode exigir [que seja] de outra forma. Mas, pelo menos, vão passar a ter um acesso direto a alguém a quem podem tirar as suas próprias dúvidas."
Opinião diferente tem a presidente do Observatório de Violência Obstétrica, Carla Santos, que compara este plano do Governo a "um penso rápido que vai normalizar as urgências desfalcadas ao nível dos profissionais". Este cenário "põe em causa a satisfação dos profissionais com o trabalho que vão prestar e põe em causa a segurança das mulheres no acesso à urgência".
Assinala ainda que o "trabalho que Ana Paula Martins está a fazer é absolutamente deplorável e um desprezo pelo SNS", já que esta portaria vem "normalizar o desinvestimento". "Os tarefeiros que têm vindo a exercer trabalhos na obstetrícia não são necessariamente médicos especialistas", atira.
O novo modelo de atendimento para as grávidas vai ser reavaliado dentro de três meses com o objetivo de se saber se pode ou não ser alargado a outras zonas do país.

