"Perdeu-se ligação do bairro ao polícia, que conhecia o nome das pessoas." Proximidade é solução, mas "faltam meios"
A TSF foi conhecer o projeto de policiamento de proximidade em Benfica, Lisboa. Os moradores aplaudem a iniciativa. O autarca também, mas avisa que a falta de agentes dificulta a criação do elo entre comunidade e polícia, o que, em algumas circunstâncias, pode obrigar à mobilização de uma “enormidade de meios”
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A morte de Odair Moniz, cidadão cabo-verdiano de 43 anos, baleado por um agente da PSP na madrugada de 21 de outubro, fez com que saltasse para o espaço público o tema do policiamento de proximidade. A questão esteve em destaque no congresso da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP/PSP), que decorreu no último fim-de-semana, com o presidente da ASSP/PSP, Paulo Santos, a pedir mais investimento e o reforço do modelo existente. Em jeito de resposta, Margarida Blasco, a ministra da Administração Interna, garantiu que o modelo vai ser revisto e prometeu também um maior investimento do Governo.
As vozes parecem unir-se na defesa deste tipo de policiamento que muitos consideram que, se já tivesse sido reforçado, poderia acalmar a fricção entre autoridade e moradores e até evitado a morte de Odair Moniz. Mas o que é, afinal, o policiamento de proximidade? Será eficaz? A TSF foi tentar descobrir respostas, tendo como exemplo o que acontece em Benfica, no concelho de Lisboa.
O projeto existente na freguesia começou em 2023, com a iniciativa de um grupo de cidadãos que exigiu medidas, depois de alguns casos de criminalidade. “Foram demonstradas várias preocupações com um ligeiro crescimento do sentimento de insegurança em algumas zonas da freguesia”, sublinha à TSF Ricardo Marques, presidente da Junta de Freguesia de Benfica.
O destaque foi para a zona do Colégio Militar ou do Bairro de Santa Cruz, onde vários quintais de casas foram assaltados, com o roubo de ferro e bicicletas. Violência não houve, assegura o autarca, mas foi suficiente para os cidadãos agirem, apesar dos dados mostrarem que “Benfica é a segunda freguesia do concelho de Lisboa com menos crimes reportados”.
Na linha da frente por medidas esteve a Associação dos Moradores do Bairro de Santa Cruz e Zonas Contíguas, que promoveu uma petição em defesa da instalação de câmaras de vídeo-proteção e de mais polícias nas ruas. As câmaras ainda estão por instalar, contudo a exigência de mais polícias nas ruas já teve eco e os agentes andam nas ruas.
O presidente da Associação dos Moradores do Bairro de Santa Cruz e Zonas Contíguas, José Cardoso, garante que os resultados estão à vista: “Os nossos associados conhecem os dois polícias. Têm o número de telefone deles, permitindo que, se a pessoa tiver algum problema, sabe que tem ali uma ajuda.”
O autarca de Benfica fala num projeto de grande sucesso, que se junta a um outro projeto, também de policiamento de proximidade, que existe há vários anos e que resulta de uma parceria entre a Junta de Freguesia e a Polícia de Segurança Pública (PSP).
Nós temos um quiosque onde os nossos seniores vão carregar os passes e, ao mesmo tempo, interagem lá com agentes, que lhes dão a conhecer as novas burlas.
Ricardo Marques diz que esta é um tipo de iniciativa que tem grande efeito, já que cria um sentimento de segurança.
Porém este apoio nem sempre é possível de dar. O presidente da Junta de Freguesia de Benfica avisa que a escassez de meios na PSP faz com que as ações de proximidade, nomeadamente em algumas zonas, sejam difíceis de fazer, o que leva a que seja mobilizada “uma enormidade de meios para uma ação mais efetiva, quando as coisas já estão a descambar”.
Ricardo Marques defende que para este cenário em muito contribuiu a criação das chamadas super esquadras: “Teremos ganhado em capacidade de ação, mas perdemos uma ligação que havia ao polícia do bairro que cumprimentava as pessoas e conhecia-as. É preciso agora criar um equilíbrio entre a capacidade de projeção de meios e a ligação afetiva às comunidades”.
O elo entre a polícia e os habitantes do Bairro de Santa Cruz, na Freguesia de Benfica, em Lisboa, parece unido e o presidente da Associação de Moradores, José Cardoso, dá um exemplo de uma atividade organizada recentemente: “Demos o nome de Rua da Brincadeira, em que arranjámos atividades para todas as idades. A Polícia Municipal trouxe os agentes da equipa de proximidade e os adultos e crianças estiveram a interagir com eles através de jogos. Desta forma, puderam conhecer os agentes e interpretar o polícia como uma pessoa amiga e que existe para ajudar.”