Em Portugal, a quota é de 10.779 toneladas. Armadores e pescadores consideram que o sacrifício de estarem há tantos anos a cumprir os defesos de longos meses para o stock da sardinha está a dar resultados.
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No porto de Olhão, os homens estão numa azáfama a arranjar as redes. Hoje começa a pesca da sardinha e tem que estar tudo pronto.
Para o mestre António Santos, já não era sem tempo. "A embarcação sete meses parada à espera de um subsídio de miséria?" - faz a pergunta já em jeito de resposta. Garante que "sardinha é o que vê mais" e que, até agora, tinham que a deitar fora. Isto porque, até esta segunda-feira, por estar no período de defeso, a sardinha que viesse nas redes tinha de ser deitada novamente ao mar.
Este ano, cada embarcação grande pode pescar cerca de 3 mil quilos por dia.
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O mestre Paulo Carmo, da embarcação Flor da Beira, tem uma tripulação de 15 homens. Assegura que este ano se vê muita sardinha no mar e que a biomassa aumentou "devido aos longos períodos de defeso, desde há seis anos".
Miguel Cardoso, da Associação de Produtores OlhãoPesca, receia que rapidamente a quota estipulada para Portugal seja ultrapassada. Até finais de julho, os pescadores podem atingir uma quota de aproximadamente 5 mil toneladas de sardinha. "Tendo em conta a abundância de sardinha que se observa no mar, se houver regularidade nas capturas diárias e se as organizações de produtores não travarem a captura e descarga, facilmente vamos esgotar esta possibilidade de pesca", afirma.
Mas o mestre Paulo Carmo já nem contesta a quota. Sublinha que o pior mesmo é estar durante tantos anos consecutivos com longos períodos de paragem. "Temos quatro meses para pescar a sardinha e os outros meses é para andar a gastar gasóleo", lamenta.
As associações de produtores e armadores têm acompanhado os cruzeiros do IPMA para verificação do recurso e garantem que, com estes períodos de defeso, o stock de sardinha tem vindo a aumentar.
Mesmo assim, o ICES (Conselho Internacional para a Exploração do Mar), o organismo que faz recomendações à União Europeia, continua a colocar muitas objeções à pesca.
"Não está a ter em conta estas evidências recentes", diz Miguel Cardoso, que afiança que o ICES faz recomendações de acordo com os dados de há quatro anos.
O mestre António Santos, da traineira Anélio, até acha bem as paragens para deixar crescer os juvenis. Contesta é o pouco rendimento de quem anda ao mar. Este ano, pela paragem de oito meses, o Governo deu 60 dias de subsidio aos pescadores.
Miguel Cardoso argumenta que se o stock de sardinha melhorou, tudo se deve ao sacrifício dos homens do mar. O presidente da OlhãoPesca quer acreditar que os longos períodos de defeso não se vão manter para sempre, "porque é insustentável e as empresas não aguentam", garante.