Os pescadores queixam-se das redes vazias e apontam o dedo à seca. Os cientistas concordam: sem chuva os rios não enchem, não levam nutrientes para o mar e não criam alimento para os peixes.
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Há vários dias que o mestre Vitorino Jesus deita as redes ao mar. E elas vêm invariavelmente vazias. "Em 40 anos de mar nunca se viu uma coisa como está." Lamenta a seca que se faz sentir. "A gente pensa que é só em terra mas não é, prejudica tudo."
Do mesmo se queixa João Andrés, armador e aquacultor. "Noutros anos, quando havia vendavais e chuva havia sempre alteração na quantidade e qualidade de peixe", observa, "Hoje vê-se cada vez menos peixe, ele não cresce, não há fitoplâncton."
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Além da falta de peixe também os bivalves não estão a crescer. "Este ano cresceram metade e as amêijoas não desovam."
Jorge Gonçalves é investigador do CCMAR, o Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve. Ele confirma os receios dos pescadores. "Se chove pouco os caudais dos rios ficam mais pequenos e trazem menos nutrientes que levam ao boom de plâncton." O plâncton é a base da cadeia alimentar dos oceanos, explica.
A Universidade do Algarve já fez em tempos um estudo de relação entre o caudal do Rio Guadiana e os desembarques de sardinha e chegou a essa conclusão:com menos água nos rios há também menos pesca.
E os pescadores e mestres de embarcação lamentam este tempo quente e de seca que se faz sentir. "Falta haver vendavais e chuva", diz João Andrés. São alterações climáticas que estão a levar a que nas redes já nem venha peixe.