Pessoas encostadas à parede no Martim Moniz. "Ironia triste chamar operação especial como Putin chamou à invasão da Ucrânia"
No Fórum TSF, Santos Silva critica a "instrumentalização" das polícias pelo Governo. Já o autarca Miguel Coelho aconselha Marcelo a visitar a zona e a pedir desculpa a quem viveu aqueles momentos. Contudo, o especialista Francisco Rodrigues garante: "Se a PSP agiu assim é porque tinha motivos para o fazer"
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Perante as imagens de pessoas com as mãos encostadas à parede durante uma operação policial no Martim Moniz, em Lisboa, o antigo presidente da Assembleia da República Augusto Santos Silva é perentório a criticar o Governo: "Dá-se a ironia triste de se chamar a esta ação operação especial, tal como Putin chamou operação especial à invasão da Ucrânia, para não lhe chamar guerra", afirmou no Fórum TSF desta sexta-feira.
Para o também ex-governante, o Executivo "está a instrumentalizar as forças de segurança com um objetivo político errado, ilegítimo e perverso".
Apontando que, além da criação junto da comunidade imigrante de "um sentimento de que não é bem-vinda em Portugal, de que é criminalidade", as fotografias que "circulam internacionalmente" tornam o retrato de um Portugal "tranquilo, seguro e que acolhe bem as pessoas vindas de todo o lado" numa "imagem torpedeada".
Já o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior (onde se situa o Martim Moniz), Miguel Coelho, está revoltado porque "não se pode fechar uma rua e encostar as pessoas à parede".
"É qualquer coisa só possível de ver numa ditadura, seja islâmica, seja soviética, seja na América Latina, seja onde for."
Aquilo que aconteceu na Rua do Benformoso "visou uma etnia, como está na moda agora dizer, do subcontinente asiático", algo, considera, "inaceitável".
Nem o autarca se sente seguro com a promoção deste género de "iniciativas gratuitas". "Nós não pretendemos um Estado policial", atira. Reconhecendo que há problemas de insegurança na Mouraria, pede "mais agentes apeados, a andar sobretudo à noite".
Dado isto, Miguel Coelho entende que só há um caminho para a ministra da Administração Interna, Margarida Blasco: a demissão. "Ficaria bem ao senhor Presidente da República ir à Rua do Benformoso pedir desculpa àquelas pessoas", assinala ainda.
Por sua vez, o especialista em segurança Hugo Costeira, antigo presidente do Observatório de Segurança Interna, não vê nada de invulgar nesta ação, destacando que "o combate à criminalidade não tem cor, não tem raça e não tem religião".
Esta é uma ideia partilhada por Francisco Rodrigues, presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo. Com base na sua carreira profissional, realça que "se a PSP agiu com aquelas caraterísticas é porque tinha motivos para o fazer".
A operação da PSP de quinta-feira no Martim Moniz terminou com a detenção de duas pessoas e a apreensão de quatro mil euros em dinheiro, bastões, documentos, uma arma branca, um telemóvel e centenas de artigos contrafeitos.
À esquerda, multiplicam-se as reações e já esta sexta-feira o secretário-geral do Partido Socialista, Pedro Nuno Santos, falou "no Governo mais extremistas das últimas décadas". O Presidente Marcelo quer, primeiro, ver as imagens antes de tecer qualquer comentário, salvaguardando que a garantia de segurança "deve ser feita com recato".

