Piadas, "manteigueiros" e telefonemas a meio da noite. Como era ser aluno de Marcelo?
Marcelo Rebelo de Sousa despede-se, esta tarde, da Universidade. O "Professor Marcelo" vai dar a última aula na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, onde, além de docente, foi também aluno.
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A TSF falou com destacados antigos alunos do atual Presidente da República, que lembraram os tempos em que partilharam a sala de aula com Marcelo.
O antigo secretário de Estado e deputado do PSD José Eduardo Martins diz que percebeu logo na primeira aula que o Professor Marcelo era "mais cativante e diferente dos outros". "Foi, seguramente, o professor mais marcante dos meus anos de curso", afirma.
José Eduardo Martins garante que quem foi aluno daquele que agora é o Presidente da República reconhece que "o homem foi sempre o mesmo". "Foi sempre a mesma pessoa de bem com a vida, positiva e bem-disposta. O que se vê é o que é", confirma.
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O ex-deputado social-democrata recorda um episódio caricato: Marcelo estava dar a primeira aula de Introdução ao Estudo do Direito "e precisava de um Código Civil". "Alguém, na primeira fila, estica um Código Civil, muito contente. E o Prof. Marcelo diz «Não há nada como estes alunos 'manteigueiros' que se sentam na primeira fila e trazem os códigos todos»", lembra divertido José Eduardo Martins. "Pobre do rapaz, ia morrendo com o comentário", conta. "A primeira aula foi logo um fartote de riso".
Por hábito, na Faculdade de Direito, as aulas de Marcelo Rebelo de Sousa eram muito concorridas. "Eram sempre extraordinárias. Vinham assistir às aulas imensas pessoas de outros anos. A sala estava sempre cheia", garante José Eduardo Martins, acrescentando que, apesar da boa disposição, Marcelo era um professor rigoroso, que fazia provas difíceis e atribuía notas pouco generosas.
A deputado do PS Isabel Moreira teve uma experiência diferente enquanto aluna de Marcelo Rebelo de Sousa, já que este foi orientador da sua tese de mestrado. Na altura, fez um único pedido ao seu professor orientador: "Pedi-lhe que não me telefonasse a meio da noite", revela, entre risos. "Ele é um noctívago. E eu disse-lhe que para mim não dava, porque eu precisava de dormir".
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A socialista lembra que, quando atravessava problemas pessoais complicados, foi Marcelo Rebelo de Sousa quem lhe deu confiança e a motivou a continuar - e Isabel Moreira acabou até por entregar a tese de mestrado antes do prazo final. "Foi uma experiência inesquecível. Tenho uma dívida de gratidão eterna para com o Professor Marcelo".
A ligação ficou para a vida, forte ao ponto de Isabel Moreira confessar que lhe custa muito criticar o Presidente da República. "Tenho uma 'pedrinha no sapato', aquela memória de uma dívida muito grande", admite. "A emoção, por vezes, felizmente, tolda-nos".
Já José Eduardo Martins adota uma postura mais racional e diz que não se retrai quando tem de criticar o antigo professor. "Ele pôs-nos sempre muito à vontade para sermos francos. Ele gosta de franqueza e de ser desafiado. É uma característica dos homens fortes", atira.
E para quem foi aluno deste professor é um grande orgulho vê-lo agora em Belém: "Acho tão importante termos uma pessoa tão positiva e tão capaz à frente do Estado. Acho mesmo um privilégio", admite José Eduardo Martins.
"Teria sido uma pena que o Professor Marcelo tivesse passado ao lado de alguma coisa verdadeiramente importante na política", afirma. "Ainda bem que assim não foi".