Pilotos denunciam falhas graves e atrasos no socorro dos helicópteros do INEM
Tiago Farias Lopes revela que nos últimos dias o país teve períodos em que esteve a funcionar apenas uma única aeronave e que chegou a ser rejeitado pelo menos um socorro por atraso noutra missão.
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O Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC) denunciou esta quinta-feira que o atual dispositivo noturno dos helicópteros do INEM revelou "falhas graves" na primeira semana de funcionamento de duas aeronaves durante a noite e revelou, na TSF, que há poucos dias o país "ficou a noite toda” sem uma das aeronaves.
"Foi dia 7, salvo erro, o segundo helicóptero que estava H24 no país todo, que é o de Loulé, ficou avariado das 22h00 às 16h00 do dia a seguir”, assinalou Tiago Farias Lopes, e tal significa "que o país ficou a noite toda sem o outro helicóptero H24”. Assim, só havia "um helicóptero a socorrer o país todo, em Macedo de Cavaleiros”.
O líder do sindicato assinala que “felizmente não houve uma morte” durante estes episódios, mas pergunta desde já "quem é que vai assumir a responsabilidade” caso tal aconteça.
Num outro episódio, que terá acontecido esta quarta-feira, quando foi preciso transportar "dois pacientes de Mogadouro para Bragança, um foi via terrestre porque era não era um doente crítico e o crítico foi via helicóptero”.
O primeiro a chegar ao hospital de Bragança "foi o doente via terrestre”, algo que o líder do SPAC diz ser "inconcebível” por ser um trajeto que "demora, normalmente, 25 a 30 minutos e demorou uma hora”.
O helicóptero que foi buscar o paciente, explicou, "não tinha suporte para aterrar no heliporto do hospital de Bragança, o que significa que demorou mais tempo do que o expectável”.
Com o atraso a poder atingir os 50 minutos nalguns casos, Tiago Faria Lopes assinala ainda um outro episódio em que um paciente em estado grave e que precisava de ser transportado da Covilhã para Coimbra “tinha de ser transportado”, mas teve de seguir por via terrestre e “demorou duas horas”.
"Porquê? Porque o helicóptero mais uma vez não conseguiu ir buscá-lo à Covilhã, que demorava 25 a 30 minutos. Portanto, nós estamos a brincar com a saúde das pessoas e dinheiro do erário público”, lamenta, seguindo até para um outro exemplo: "Há cerca de cinco ou seis dias, o helicóptero que estava mais perto do local de transporte de um paciente recusou esse socorro ao paciente. Porquê? Porque estava numa missão onde demorou mais tempo do que expectável e teve de vir um helicóptero de Viseu, que estava mais longe, porque demorou menos tempo”.
Num comunicado emitido esta tarde, o SPAC identifica ainda mais casos, como aqueles em que "doentes, transportados do Hospital de Bragança para o Porto pelo INEM, tiveram um atraso de aproximadamente 50 minutos - atraso causado pela decisão de se colocar em Macedo de Cavaleiros um helicóptero maior, modelo Aw139", ou casos de transportes de Bragança para Vila Real com atrasos de “cerca de 30 minutos” que se justificarão com a decisão de colocar em Macedo de Cavaleiros um helicóptero Aw139.
O sindicato lembrou ainda que haverá "mais casos semelhantes, mas não reportados", alertando que, se os quatro helicópteros do INEM estivessem a operar durante 24 horas, haveria sempre forma de socorrer os doentes, algo que, sublinha, "não se verifica com o atual formato".
Dois dos quatro helicópteros de emergência médica ao serviço do INEM, concretamente os estacionados em Viseu e em Évora, deixaram de operar à noite, desde o dia 01 deste mês, anunciou o Ministério da Saúde, no final de dezembro passado.
Nessa altura, em declarações à Lusa, o presidente do INEM, Luís Meira, afirmou que a situação se devia manter no máximo durante seis meses.
Já os outros dois helicópteros, que estão em Macedo de Cavaleiros e Loulé, continuam a operar 24 horas por dia, segundo o mesmo responsável.
Em Viseu e Évora, nos períodos noturnos, "as respetivas equipas médicas garantirão a operacionalidade de duas" VMER (Viatura Médica de Emergência e Reanimação).
O INEM salientou que o dispositivo está 100% operacional no período diurno e explicou que o ajuste resulta de, numa consulta de mercado, o instituto só ter recebido duas respostas, uma delas com a solução que se vai implementar a partir de janeiro.
