Pioneiro da telemedicina critica ERS por contar e-mails e telefonemas a doentes como consultas
Orientação enviada pela Administração Central dos Serviços de Saúde aos hospitais pediu para que quaisquer contactos por telefone ou correio eletrónico entre utentes e os serviços fossem contabilizados como teleconsulta.
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Um dos pioneiros da telemedicina em Portugal não poupa nas críticas à forma como estão a ser tratados os contactos à distância entre médicos e doentes. No último relatório da Entidade Reguladora da Saúde (ERS) há dados pouco claros sobre os números que registam aumentos sem precedentes dos métodos remotos de atendimento e tudo parece estar relacionado com uma orientação enviada no início deste ano pela Administração Central dos Serviços de Saúde (ACSS) aos hospitais.
Segundo essa circular, quaisquer contactos por telefone ou correio eletrónico entre utentes e os serviços, independentemente de existir uma participação médica, devem ser contabilizados como teleconsulta, avança o Jornal de Notícias. Eduardo Castela, presidente da Associação Portuguesa de Telemedicina e pioneiro no conceito de medicina à distância fala em "salada russa" e lembra que o pai também era médico e falava ao telefone com os doentes, mas isso não significava que fazia telemedicina.
"Na génese, quando falamos em telemedicina estamos a falar de uma consulta por videochamada em que, de um lado, está o doente e o médico e, do outro lado, está o médico especialista. Começámos isto na cardiologia pediátrica do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra em 1998 e, atualmente, temos uma rede com todos os hospitais da região Centro e com os PALOP. Há doentes destes países que, após esta consulta, vêm diretamente para a cirurgia", explicou Eduardo Castela ao JN.
Além disso, Eduardo Castela admite outros conceitos como telerastreio, teleformação e telemonitorização.
De acordo com os dados da ERS, citados pelo mesmo jornal, as teleconsultas aumentaram 214% de 2019 para 2020, o primeiro ano da pandemia. Se a contabilidade incluir todas as consultas médicas em que o utente não esteve fisicamente presente, ou seja, incluindo os telefonemas e as correspondências eletrónicas, o aumento foi de 465%.