Plano do Governo para lixos urbanos prevê coincineração e novos incineradores
O plano do Ministério do Ambiente alerta que há aterros que esgotam em setembro e que é urgente agir. Queima de resíduos urbanos e aumento da capacidade dos aterros atuais são alíneas de um plano que pode ser atropelado pelas eleições
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A situação é crítica. Portugal não tem onde depositar os 500kg de lixo que cada pessoa produz em casa, em média, por ano.
No caso do aterro de Coimbra, só há capacidade até setembro. Em declarações à TSF, o secretário de Estado do Ambiente, Emídio Sousa, refere que "a CCDR Centro [Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro] alertou que Coimbra só funciona até ao fim do ano, é uma situação crítica".
Mas o cenário é idêntico em praticamente todo o país, à exceção do Alentejo. Por exemplo, os aterros de Palmela, Seixal, Barlavento Algarvio ou Portimão só conseguem receber resíduos por mais um ano.
VEJA O PLANO DE AÇÃO DO GOVERNO PARA OS RESÍDUOS
Há ainda uma agravante: em vários destes municípios, as autarquias levantam obstáculo ao aumento da capacidade. E se nada for feito? "Se nada for feito, resta-nos regressar às lixeiras ou recorrer à exportação", responde Emídio Sousa, que tem as pontas na ponta da língua: "Há países na Europa prontos a receber e tratar os nossos resíduos, mas isso iria custar mais de 200 euros por tonelada. Acho preferível sermos nós a resolver o nosso problema."
No plano do Governo, as medidas urgentes são precisamente o aumento da capacidade dos aterros atuais, sem construir novos, mas o secretário de Estado reconhece que está a ser preparada "legislação que permita a um aterro ainda com espaço receber os resíduos de outro em situação de emergência".
A médio prazo, surge a queima de resíduos na Valorsul, em Lisboa, e na Lipor, no Porto. Mas também não chega e fica definido que pode fazer-se a queima de resíduos nos fornos das cimenteiras, a coincineração que tanta polémica deu e que Emídio Sousa substitui pela expressão "valorização energética, como a que se faz em vários países da Europa ou em Singapura, a cidade-estado que tem quatro instalações destas".
A construção de mais dois incineradores de raiz, um na região centro, outro no interior do Alentejo ou Algarve, são também respostas que demoram anos. Antes é preciso gerir os aterros de resíduos que estão em situação de rutura iminente.
A confirmar-se que não haverá novo Conselho de Ministros antes das próximas eleições legislativas, o Plano de Ação fica no papel, mas Emídio Sousa garante que valeu a pena o trabalho: "Seja qual for o partido, este plano reuniu um enorme consenso e não há alternativa."