Pobreza. Exaustão. Isolamento. Estudo retrata quem cuida dos familiares em casa
Estudo da Comissão Europeia pede apoios a quem está em casa a cuidar dos familiares. Parlamento arrasta assunto há mais de dois anos.
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O Estado português tem feito pouco para combater o maior risco de pobreza dos milhares de cuidadores informais, quase sempre mulheres, que tratam dos seus familiares em casa. A conclusão é de um estudo promovido pela Comissão Europeia que propõe uma série de medidas específicas, várias delas pedidas há muito pela Associação Nacional Cuidadores Informais e que, depois de dois anos de audições públicas, ainda estão a ser discutidas no Parlamento.
O documento lido pela TSF sobre os cuidados de longa duração em Portugal destaca que os estudos sobre a realidade nacional têm "identificado várias vulnerabilidades entre os cuidadores informais como ansiedade, depressão, exaustão, isolamento, além de agravado risco de pobreza e mais dificuldades no mercado de trabalho". "Riscos que ainda não foram enfrentados de forma suficiente".
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O estudo destaca que há promessas do Ministério da Saúde de treinar e dar mais meios aos cuidadores informais, mas isso "continua a ser apenas uma aspiração", sendo necessário aprovar o estatuto do cuidador (que continua por fechar na Assembleia da República).
Mulheres sobrecarregadas
A investigação aos cuidados de longo prazo em Portugal é publicada pela direção-geral da Comissão Europeia que avalia as políticas sociais na Europa, destacando-se que, em 2016, 7,4% das mulheres portuguesas desempregadas não procuravam trabalho porque cuidavam de um familiar, fosse ele uma criança ou um adulto incapaz, percentagem que descia para 0,8% nos homens.
O estudo constata que Portugal tem falta de uma estratégia de longo prazo para responder aos problemas levantados pelo envelhecimento da população, sendo que grande parte dos cuidadores informais são mulheres com pouca escolaridade, com idades entre os 45 e os 75 anos, sendo que quase metade estão desempregadas.
Benefícios fiscais ou horários flexíveis
Indo ao encontro das propostas em discussão no Parlamento, o estudo propõe políticas concretas. Entre elas, aumentar os apoios em dinheiro a quem cuida dos familiares, bem como benefícios fiscais, horários flexíveis no trabalho e que o tempo passado a cuidar em casa também conte para as pensões.
Questionada pela TSF sobre este estudo da Comissão Europeia, a presidente da Associação Nacional de Cuidadores Informais destaca que os resultados a que chegam dão mais força às reivindicações que fazem há anos e que se arrastam na Assembleia da República.
Sofia Figueiredo diz temer que, mais uma vez, os deputados se atrasem, não aprovando o estatuto do cuidador informal a tempo do novo Orçamento do Estado para 2019, atrasando o tema para as contas do Estado de 2020.
A Associação tem uma vigília marcada para esta quinta-feira à porta da Assembleia da República, com o objetivo de acelerar a aprovação do estatuto do cuidador informal.