Neste Dia Internacional da Liberdade de Imprensa, convidámos para o debate Sofia Branco, presidente do Sindicato dos Jornalistas, e Pedro Neto, diretor executivo da Amnistia em Portugal.
Corpo do artigo
Para onde caminha o jornalismo em Portugal? O mau jornalismo pode pôr em causa a própria democracia? E no resto do mundo? Como lidar com o fenómeno Trump e com a manipulação e propaganda?
TSF\audio\2017\05\noticias\03\bb
Um jornalismo mais pobre empobrece a qualidade da informação e, consequentemente, as democracias. Pedro Neto e Sofia Branco coincidem na análise.
"Anda tudo a imitar-se uns aos outros, isso não favorece a qualidade", diz a presidente do Sindicato dos Jornalistas, sublinhando as "ameaças do mundo desenvolvido": "As condições laborais, as condições em que se faz o jornalismo não resultam num jornalismo muito livre".
"Há um peso excessivo da agenda formal e institucional, andamos todos atrás das mesmas pessoas, quando devíamos estar a vigiar, a escrutinar", faz notar Sofia Branco, resumindo: "Era preciso um jornalismo de fiscalização de todos os poderes". O problema passa também pelas condições em que os jornalistas trabalham. "Trabalhamos todos com salários baixos, quando podemos dizer que temos um salário - muitos nem sequer podem dizer isso. Os vínculos precários aumentaram, hoje temos um terço de pessoas que trabalha sem vínculo, que são free lancers falsos. Isso não dá segurança para depois se exercer a profissão naquilo que ela tem de missão de serviço público". Ao invés, "estamos todos mais preocupados em saber se conseguimos pagar a casa no fim do mês e a escola dos filhos".
Pedro Neto concorda que esta questão da falta de meios "é muito importante". O facto de vivermos numa sociedade "em que é tudo muito rápido e pela rama também já tem consequências na formação da opinião pública e no esclarecimento das pessoas". O diretor executivo da Amnistia Internacional acrescenta: "Não é à toa que no ano passado vimos os EUA eleger um presidente que usou muito bem técnicas de informação e desinformação para fazer passar uma mensagem e que também este ano, já na Europa, estamos a ver políticos com posições mais extremadas a conseguirem alavancar-se nesta sociedade de informação em que os soundbites contam. E isso empobrece o jornalismo de qualidade"
Em jeito de conclusão, Pedro Neto cita uma ideia já comum: "Nunca como hoje tivemos acesso a tanta informação, mas também nunca como hoje estivemos tão pouco informados"
Manipulação, propaganda, como combater o que chega às redes sociais sem filtro? "Isto vai revelar a importância dos jornalistas, que são cidadãos treinados para fazer esse filtro entre aquilo que está a acontecer e o que chega às pessoas"
"Falta por isso", diz Sofia Branco, "apostar na literacia mediática, de forma a introduzir esta questão nos alunos em idade escolar, para eles perceberem a diferença entre um jornalista e alguém que vai para as redes sociais falar de boatos, manipular a informação e dizer só parte da história, que é o que faz hoje em dia o presidente dos EUA".
O responsável pela Amnistia acrescenta ainda que "é necessário que os órgãos de comunicação social não andem ao sabor das audiências, porque isso sacrifica a qualidade". "Esta economia de consumo mais repentina começa a comandar", adverte.