"É como lançar uma rede de pesca que traz cada vez mais peixe". Investigador diz que algo parece estar "mal" nos números da DGS.
Corpo do artigo
Pela terceira vez nos últimos três dias e pela sétima nos últimos dez, Portugal regista esta sexta-feira números próximos dos 10 mil novos casos diários de Covid-19, mas o número real de infetados pode ser muito superior, afastando-se do número oficial divulgado pela Direção-Geral da Saúde (DGS).
O receio é manifestado à TSF por um investigador da equipa da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa que trabalha nas previsões regularmente apresentadas nas reuniões do Infarmed ao Governo, Presidente da República e restantes políticos, podendo estar a existir, na realidade, uma média de mais 2.500 infetados por dia.
Os sinais para chegar à conclusão anterior são dois, a começar pela taxa de positivos face ao número de testes que antes do Natal era de 10% e que agora, depois de uma subida progressiva, constante, chegou aos 20%.
"Sinal de que estamos no limite da testagem e que devido à disseminação generalizada da infeção captamos cada vez mais casos pelo mesmo número de testes", refere Carlos Antunes.
O investigador compara com uma rede de pesca que tem sempre o mesmo tamanho, mas que apanha cada vez mais peixe, o que por norma significa que "há mais pescado no mar".
Por outro lado, o outro sinal preocupante é que os diferentes indicadores recolhidos desde o início da pandemia pela equipa da Faculdade de Ciência começaram a "divergir".
Ou seja, detalha Carlos Antunes, o número oficial de novas infeções parece que estabilizou no tal máximo de 10-11 mil por dia - ou 8.500 se olharmos para a média dos últimos 7 dias, tendo em conta a descida comum ao fim de semana -, mas o número de mortos e internados nos hospitais não tem parado de aumentar.
"Uma divergência que aponta para conclusões que parecem diferentes: segundo uns indicadores parece que a incidência da doença está a aumentar e segundo outros parece o contrário, num sinal de que algo está mal e em que o mal é que os testes estão abaixo daquilo que devíamos estar a fazer", afirma.
O receio da equipa da Faculdade de Ciências é que o sistema de testes esteja esgotado, não tanto pela capacidade de fazer os testes, propriamente, mas sobretudo pela capacidade das equipas de rastreio que mesmo tendo sido reforçadas nos últimos meses dificilmente terão capacidade para responder a tempo ao novo escalar da pandemia.
Situação que segundo Carlos Antunes é preocupante pois estamos perante infetados que "obviamente desencadearão outras cadeias de transmissão que mais tarde iremos apanhar, mas apenas em casos sintomáticos mais graves" quando chegarem aos hospitais.
13233878