"Podemos ter de parar as ressonâncias magnéticas." Preço do hélio aumentou 500%
O alerta tem vindo a crescer nos últimos anos, à medida que o mundo vai percebendo que o hélio é mesmo um gás finito, não renovável e por isso mesmo cada vez mais caro. Pode ser usado na indústria militar, aeroespacial, mas a principal utilização civil é nos equipamentos de ressonância magnética, exames essenciais à prática da medicina.
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Por ser mais leve que o ar, uma vez liberto, o hélio desaparece da nossa atmosfera. Pior, não há forma de recapturá-lo ou reproduzi-lo, "quando acabar, acabou, não há mais", remata o radiologista Ricardo Sampaio.
Ouvido pela TSF, este dirigente da Associação Nacional dos Médicos de Radiologia, Neurorradiologia e Medicina Nuclear lembra que há muito se sabe que "um dia destes podemos ter de parar as máquinas de ressonância magnética por não haver hélio", mas o que tem vindo a servir de lembrete é o corrente "ajustamento do preço no mercado".
O preço do hélio tem vindo a disparar e nada indica que se inverta a tendência, "já aumentou uns 500% nos anos mais recentes" e, também por essa via, pode obrigar a suspender as ressonâncias magnéticas "por atingir preços incomportáveis".
Como subproduto do gás natural, o hélio existe nos países que têm reservas deste combustível. Atualmente, por causa das sanções ligadas à invasão da Ucrânia, não se pode contar com um dos poucos exportadores. "Se não contarmos com a Rússia, por causa do embargo, os únicos países que têm reservas de hélio são os Estados Unidos, o Catar e a Argélia".
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Ricardo Sampaio sublinha que, de momento, o hélio não falta, vai sendo é cada vez mais caro. Mas o médico acredita que há de acabar e "a única alternativa é a ciência conseguir produzir equipamentos de RM que precisem cada vez menos de hélio, na construção e para funcionarem".
"Já existem equipamentos que não consomem hélio, só no processo de fabrico das máquinas, já não precisam depois de ser arrefecidas com hélio", conta Ricardo Sampaio, mas lembra que esses equipamentos mais modernos estão sobretudo no privado. E são caros "uma máquina dessas custa entre 800 mil e 1,5 milhões de euros".
O parque de equipamentos de ressonância magnética do SNS é velho, "tem 10, 15, 20 anos... não me parece viável substituí-lo a médio prazo", avalia este especialista.
Neste cenário é importante poupar, o que significa fazer um uso tão eficiente quanto possível deste gás nobre e não desperdiçá-lo, por exemplo, "a encher balões ou para brincar com a voz fininha".